terça-feira, 21 de outubro de 2014

Maratona de São Paulo 2014: Ruas de Fogo!

Como seria bom se no momento da inscrição da prova, além do tamanho da camiseta, você escolhesse com que condição climática vai correr. Mas não é assim na vida real, corrida é o reality show mais cruel que você pode imaginar, especialmente quando ela tem 42.195 metros de extensão, acontece no final de semana mais quente do ano na cidade nos últimos 84 anos, com organização ruim e bem no dia da mudança para o horário de verão. Aí vem mais um post daqueles, tire as crianças da sala, pois o bicho vai pegar.

Com a velha desculpa da “Copa do Mundo”, muleta de muita gente no mundo das corridas neste ano de 2014, a 20ª. edição da Maratona de São Paulo foi adiada para o mês de outubro, uma época de temperaturas incertas, mas que normalmente beiram o calor do verão que se aproxima. Para completar, o Estado de São Paulo vem sofrendo com uma seca histórica, que muito político inescrupuloso chega a usar para atacar a gestão atual, como se votar no candidato A ou B vai fazer chover e
resolver nosso iminente problema de falta de água. Também no dia 19/10 os relógios deveriam ser adiantados em 1 hora, chegada do horário de verão, o que custou a mesma 1 hora de sono dos corredores. Junte tudo isto e você terá às 08:00 da manhã, um horário péssimo para largada de uma prova deste tamanho um calor de 25 graus. A receita do sucesso está dada, o cozinheiro é o de sempre, o organizador atual desta prova, o qual não irei citar o nome mas todo mundo já sabe.

Combinei novamente com a colega Ivana do blog Status: Na Correria que íamos correr até o Km 25, que era a prova em que estava inscrita e que depois eu continuaria até os 42 K. Para nossa surpresa, tivemos a companhia de outro blogueiro das antigas, o Eduardo Acácio, do Por Que Eu Corro, que estava ali para fazer os 10 Km. Grupo definido, vamos começar logo esta doideira, mas foram 10 minutos para chegar até o pórtico de largada e acionar os GPSs. Até que não houve muito atropelo e os corredores encontraram seus ritmos nas largas avenidas da região, onde o pessoal dos 10 Km fez o retorno antes do primeiro túnel. Nós continuamos e no segundo túnel, bem mais extenso, passando sob a Av. Marginal Pinheiros e consequentemente o Rio Pinheiros também, saímos exaustos do fogo para a frigideira. O Sol não deu sossego e as
temperaturas do asfalto, ar, bonés e dos pobres corpos dos corredores começaram a elevar drasticamente. Após um trecho pequeno que cruzava a ponte da Cidade Universitária e voltava, entramos na USP para a chatice da raia olímpica e a tal Av. Politécnica, que ninguém suporta. No percurso deste ano, a chegada dos 25 Km foi esticada para a região do Jockey Club. E as temperaturas, subindo.

Percebemos que muitos corredores já começavam a andar por volta do Km 15, sendo que a maioria que estava ali já havia enfrentado pelo menos uma meia maratona da vida. Com um pouco de revezamento entre caminhada forte e corrida, segui com a Ivana até o 25, nos despedimos já combinando a Circuito Athenas daqui 2 semanas e segui meu caminho em direção à ponte da Cidade Jardim, contornando o Parque do Povo e desembocando na Av. Marginal
Pinheiros, desta vez por cima e com sol fritando tudo à sua volta. Seriam praticamente 10 Km na pista expressa fechada para a prova, tumultuando todo o trânsito ao seu redor. Mas o pior ainda estava por vir: com quase 38 graus de temperatura, postos de hidratação, tanto de água quanto de Gatorade, “secaram” e a organização nada fez para melhorar a situação. Nestas horas você vê quem não se preocupa com você e quem realmente tem um lugar garantido no céu: diversos voluntários surgiram do nada, com garrafas de água, outros de bike traziam água e isotônico de outros postos, sem contar as assessorias de corrida, que passaram a atender todos os atletas que passavam, independente da cor das camisetas. E a organização? Fez sua parte, varrendo os copinhos do chão e cobrindo as
bacias aonde deveriam estar os copos de água.

Parecia um episódio de “The Walking Dead”: corredores-zumbi, e eu entre eles, arrastavam-se debaixo do sol em linha nem sempre reta. No Km 36, o pessoal que voluntariamente distribui fruta todos os anos e salva nossa pele, já estava ligando para alguém na (des)organização informando nossa precária situação. Lá atrás, diversos atletas já estavam caídos na Marginal Pinheiros, sendo acudidos por outros companheiros ou simplesmente aguardando a chegada das ambulâncias, que zuniam na Av. Juscelino Kubistchek. A irresponsabilidade da
(des)organização atingiu o cúmulo, não deixando os veículos posicionados neste que seria o ponto mais crítico da maratona.

Consegui voltar a correr no Km 40, pois o apoio bike da Equipe de Corredores Tavares me ofereceu um isotônico em um copinho. Agradeci o rapaz e disse para ele que no ano passado era eu ali, com a mesma camiseta e com o mesmo propósito, mas não em situação tão dramática. Passei a linha de chegada com a marca estapafúrdia de 05:58:47, minha pior atuação em maratonas, não por falta de treino, mas por ter desidratado feito um cactos lá atrás. Gigantesca medalha, a minha de número 200, que terá um lugar especial devido à batalha que esta prova representou.


Desistir nunca foi uma opção.

Neste vídeo você pode conferir o problema da água:





Deixo aqui registrado:

- Meu respeito e admiração por todos que concluíram esta epopeia fervente, em qualquer distância. Verdadeiros heróis!

- Meu agradecimento aos colegas Ivana e Eduardo, pela companhia, boa conversa e pela força!

- Meu muito obrigado aos valentes voluntários que nos ajudaram no trecho final, sem nenhuma obrigação, mas que não aceitaram o fato de estarmos abandonados derretendo no asfalto.

- Meu desprezo pela (des)organização da prova, que só se preocupa em enviar e-mails de propaganda de seus eventos e cobrar inscrições absurdas, que não são revertidas em estrutura para os corredores. Eu não pago inscrição de prova pelo kit cheio de frescuras, pago pelo serviço dado ao atleta, e este falhou com toda certeza.

Leituras sugeridas sobre esta prova:

Maratona de SP: falta água, e atletas passam por apuros; ‘heróis’ os salvam

A gestão da Maratona de SP: Inovaram?

Nas corridas de longa distância, calor mata mais que coração, diz estudo de Israel


4 comentários:

  1. AHAHAHA ... meu amigo como eu lhe disse ... somos da velha guarda do blogueiros...
    Foi uma honra sem igual esta ao lados de pessoas tão queridas e as quais admiro !!!

    Grande Abraço e Sucesso Sempre Fera!

    Eduardo Acacio
    www.porqueeucorro.com.br

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    1. Muito bom revê-lo e pronto para enfrentar o asfalto!

      Grande abraço e até a próxima!

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  2. Meu amigo!!! Quem agradece, sou eu!!!
    Imagino o seu sofrimento. Se já para terminar os 25 já foi um sufoco, imagino você nos 42!!!
    Parabéns!!! Você foi guerreiro!!!
    Abração e até a Athenas!!!
    Ivana
    statusnacorreria.blogspot.com

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    Respostas
    1. Valeu amiga! Foi pauleira mesmo, mas que sirva de lição para todos nós, não dá para confiar a estrutura de uma prova deste tamanho em quem já tem um histórico complicado (especialmente de hidratação).

      Nos vemos na Athenas!

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