
Na capa do DVD do Dean Karnazes está escrito: “Run if you can, walk if you have to, crawl if you must. Just never give up.” (Corra se você puder, ande se precisar, rasteje se tiver que. Apenas nunca desista). Foi com este pensamento que eu passei sobre o tapete de largada da Maratona da Cidade do Rio de Janeiro, ontem, que partiu lá do Recreio do Tim Maia e foi até o Aterro do Flamengo, 42 Km de paisagem estonteante. E eu, expressamente proibido pelo médico de realizar tal proeza. O médico mandou parar de correr, então eu paro... de ir ao médico!
Bom, já que chegou até aqui, leia até o final...
Noite de sono mal dormida tem preçoSaímos de São Paulo às 00:10 de sábado, novamente com o pessoal da
Equipe de Corredores Tavares, dois ônibus de dois andares lotados de doidos que vão enfrentar uma das 3 provas do evento: Family Run (6K), Meia Maratona (21K) ou a Maratona (42K). A viagem foi calma, o ônibus um conforto total, o pessoal da Tavares como sempre na maior atenção e preocupação com todos e lá pelas 06:30 chegamos ao chuvoso Rio de Janeiro. Passeio ao Corcovado ou Pão de Açucar nem pensar, o jeito foi conhecer o Maracanã (e até eu que detesto futebol gostei da visita ao gramado!) . Um ótimo almoço por kilo e um rodízio de pizza fantástico (indicados pela Equipe Tavares) abasteceram os corredores. Dormir cedo era a ordem do dia, ou melhor, da noite.
São 04:30 da manhã de domingo no Rio, e o despertador toca
Às 05:00 o refeitório do hotel estava lotado de gente de calção, camiseta de corrida e no maior falatório. Coisa de maluco, uma tribo que vive na maior adrenalina e acorda cedo, não importa o dia. Lá pelas 05:45 os ônibus partem (o pessoal da Family Run fica no hotel, moleza, duas quadras da largada) e fomos em direção às nossas largadas mas...
... o motorista do ônibus da frente se perde lá na Barra da Tijuca!Desespero total, quem estava quieto ficou agitado, quem estava dormindo acordou assustado. Depois de cãibras e bolhas, o pior pesadelo do corredor é chegar atrasado ao tapete de largada. Vamos logo indicar os culpados: nós mesmos, que não estávamos todos no horário (05:30) nos ônibus e a organização da prova, que falhou ao indicar nas paralelas às avenidas da praia onde eram os pontos de entrada, afinal, o trânsito já estava bloqueado.

O pessoal da Meia Maratona desembarcou na Barra e saiu no maior pique, já aquecendo, mas a prova atrasou 15 minutos devido à uma tentativa imbecil da Rede Globo em transmitir a largada ao vivo. A turma da Maratona continuou o caminho e o ônibus parou a menos de 100 metros da largada. Botei o pé no chão e já ouvi “...e foi dada a largada...”. Esquece banheiro, alongamento, procurar os blogueiros, preces atrasadas, ou qualquer outra coisa; entra na bolo e corre!
A paisagem é demais!Apesar do tempo ainda esquisito tipo chove-não-chove, o mar arrebentando lá na praia já é um cenário incrível para paulistanos como eu que estão cansados de provas em shopping centers. O retão deveria assustar, porém você curte a paisagem e dá uma vontade danada de abrir a passada. Mas, a tal lesão na perna esquerda pede prudência, e eu fui em 7 min/Km por um bom tempo.

Lá pelo Km 15, invadimos a ciclovia, a rua estava alagada em vários pontos, e como não estava chovendo desde a madrugada, não valia a pena encharcar o tênis. O carioca respeitou e não xingou ninguém que eu tenha visto, apesar da nossa ousadia. Também neste ponto, faltando quase 2/3 da prova, senti uma bolha no pé direito. Lesão na esquerda, bolha na direita, mas eu não paro. O trecho da Av. Niemeyer é de lascar, uma subida bem puxada e com vento arrastando o corredor, além dos “meninos” do morro do Vidigal enchendo a sua paciência para ganhar o seu boné, seu MP3, seu óculos... só faltou me pedirem os tênis! Ainda bem que só pediram.
O arrastão...
O sol já aparecia lá em Ipanema e muita gente andava (eu adoro andar e me empurrar entre o 27 e o 32, como já fiz nas outras maratonas). No 32 liguei os motores e saí arrastando todo mundo: passava pelos corredores andando e dizia “vamos à 8 min/Km? Aguenta?”. A maioria tentava, bravos guerreiros, mas quase todos estavam lesionados e o “ônibus” do 8 min/Km chegou ao Flamengo não tão lotado quanto eu gostaria. Corri neste pace do 32 ao 42 e cheguei, total de 05:40:00 de prova (esbarrei no relógio lá no Km 16 e demorei pelo menos um minuto para voltar ao cronômetro, então o tempo redondo). Dói tudo, até os fios de cabelo. Mas valeu a pena! Quando é a próxima mesmo?
Maratona do Rio x Maratona de São PauloA primeira é um evento esportivo, movimenta a cidade, o carioca participa. O kit é repleto de mimos, a entrega é uma feira, todo mundo desfila pela rua com camisetas de outras provas. O segundo é meramente um evento da Yescom para tapar buraco na programação da Globo, sem preocupação nenhuma com o atleta. Pronto, falei, mas não vou entrar no detalhe, quem passa sempre por aqui sabe o que eu penso da “nossa” Maratona.
Agora, leia com atenção
Ah, esticou o olho para a figura ao lado e ficou com medo? Pois não faça o que eu fiz. Estou realmente proibido de correr, ainda mais esta distância. O médico vai me bater com vara de bambu quando eu contar, mas eu quis ir assim mesmo, afinal, já estava tudo pago e reservado. Eu não aconselho ninguém a fazer isto. A prova de que não sou tão irresponsável assim: eu já tinha planos de ir na Meia Maratona de São Bernardo do Campo daqui a duas semanas, mas vou conservar e descansar, como ordenado.
O que eu fiz na perna? Tropecei naquela corrida idiota do
Shopping União e ganhei um rompimento do músculo (ainda bem que não foi o tendão de Aquiles!). Corri os 42 Km com tornozeleira, e ao contrário das outras provas, não podia contar só com a perna direita, ou voltaria para casa com duas ou mais lesões. Fora a bolha, é claro.
Enfim, uma Maratona que dificilmente sairá do meu calendário!Eu adorei a prova, a organização,, os kits e a fantástica paisagem do percurso. Se estivesse bem, teria curtido mais a corrida mesmo, acelerando no plano, mas fica para a próxima. Ótima medalha, vai ficar sempre em um local de destaque.

Aliás, a foto ao lado não é a imitação de um gesto olímpico: eu estava com tanta fome ao terminar que esta medalha parecia mais um chocolate do Willy Wonka...
Se tiver a oportunidade, corra esta prova, é uma experiência e tanto!
Bons treinos! E a gente se vê nas provas, daqui a algum tempo...