O evento em questão que escolhi para esta maluquice foi a UltraRunner 100 Km Praia Grande que aconteceu no último sábado. Esta prova já está em sua terceira edição e acontece na Pista de Atletismo do Pólo Esportivo, ou seja, o atleta terá que completar 125 voltas de 400 metros (distância oficial de uma pista de atletismo) para cumprir a meta dos 50 Km. Ficou cansado só de ler? Pois saiba que ao mesmo tempo bravos heróis largam para a distância de 100 Km, ou seja, 250 voltas!
Os tempos limites são rigorosos, 8 horas para o pessoal de 50 Km e 12 horas para os atletas de 100 Km, largando às 08:00 da manhã. Não completou, você ganha as 3 letrinhas que mais assustam um ultramaratonista: DNF – Did Not Finish (Não concluiu). Debaixo de um sol de rachar asfalto, aproximadamente 200 atletas partiram com um pouco de atraso na largada para as suas distâncias escolhidas, muitos inclusive em um ritmo não aconselhável para tais empreitadas.
A prova informa em seu regulamento que é dada total liberdade de ritmo e paradas, por isto resolvi participar sem pretensão alguma de fazer dentro de um tempo determinado (mas que estivesse dentro do regulamento, naturalmente). Levei minha barraca para uma parada estratégica aproximadamente no meio da prova e deixei toda a estrutura pronta para a segunda metade. Os primeiros 10 Km foram fáceis, eu já vinha utilizando circuitos “chatos” como o Parque do Trote na Zona Norte de São Paulo e a pista da academia para ficar rodando por longos períodos, então a cabeça já estava preparada para ficar vendo a mesma paisagem repetidas vezes.
Quanto à organização, não há o que falar, numa prova de duração extensa como esta é que se percebe o quanto o staff está preparado para adversidades. Claro que ocorreram algumas pequenas falhas, mas no geral a eficiência da equipe foi exemplar, provendo todo o suporte aos atletas durante o percurso. Hidratação farta com água, Gatorade e outros líquidos, suporte alimentar na forma de bolachas, frutas e até mesmo um macarrão com purê no horário do almoço, um tonel de água fria com esponja para refrescar a cabeça, massagistas o tempo todo, piscina de água gelada e muito espaço para as barracas e acompanhantes.
Step into my office...
Quem disse que ultramaratona é só sair correndo? Se não tiver a sua estrutura própria para o seu ritmo, as coisas podem complicar. No meu caso, que sou bem lento, transpiro bastante e preciso fazer diversos ajustes ao longo do percurso, levar a barraca foi a decisão mais acertada. Deixei uma troca completa de roupa, e pode não parecer, mas depois de 20 e tantos quilômetros, debaixo de sol forte, colocar camiseta e meias limpas, além do próprio tênis, é muito refrescante. Para que você não pense que é frescura: algumas voltas antes da parada estratégica, uma bolha começou a se formar. Troquei as meias e o tênis a situação ficou sob controle, imagine se tivesse que ir até o final com o mesmo equipamento.
Mas tudo sem luxo algum, deixa eu explicar para você:
Mas então, o que deu errado?
Do meu ponto de vista, nada! É simples, eu não conhecia o formato completo de uma ultramaratona, então qualquer resultado dentro do tempo regulamentar estaria de bom tamanho. O sol foi muito, mas muito forte, imagine tomar esta dose toda de uma só vez, sem 1 milímetro de sombra! Contudo eu errei em algumas coisas:
- Confiei no GPS: além do cretino resolver acabar com a bateria antes do final da prova, os deslocamentos para hidratação, banheiro e até mesmo pelo fato de não correr na raia 1 da pista acrescentaram uns 2 Km a mais na marcação. Sobre este assunto vou deixar um post à parte, há muito que dizer, mas basta saber que eu deveria ter contado as voltas de outra forma.
- Erro de contas: errei em uma conta de voltas x tempo e quase não termino dentro do tempo regulamentar. Após o GPS “dormir” coloquei um relógio e comecei a contar voltas, baseando no quanto a tenda de cronometragem informou que faltava para eu terminar. Fiz a conta errada e terminei com apenas 5 minutos para o final do tempo máximo da prova! Resumindo, deveria ter puxado mais o ritmo e andado menos, mas o susto serviu de lição.
E os guerreiros, sempre lá!
Diversas personalidades das corridas estavam nesta prova, mas vou relatar apenas aquelas que tive contato mais próximo durante a prova: o colega Fábio Namiuti, que aguentou meu papo furado nos momentos de caminhada e que também estreava na distância, o Rafael Marrone que como sempre voava baixo na pista e a figurinha carimbada das provas de longa distância, Lucina Ratinho, que além de estar hospedada no mesmo hotel, nos deu a satisfação da companhia para uma pizza no pós-prova. Foi sensacional estar na pista com estas pessoas, colegas já conhecidos e que estavam fritando no sol comigo.
Um agradecimento especial ao novo colega, Raphael, que além de nos acompanhar do hotel até a pista, conversou muito, trocou experiências e puxou este pobre coitado por uns 10 Km ao final. Sem o seu incentivo, dificilmente eu terminaria a prova!
E é claro, agradecimentos à Márcia, que tirou as fotos, foi comprar picolé, trouxe Coca-Cola, desarmou a barraca...
E agora?
O mundo ficou menor, esta é sensação de completar uma prova deste tamanho. Mas assim como completar o Ironman 70.3 não me transformou em triatleta, o título pretensioso deste post é apenas uma brincadeira, pois eu não virei “ultra” coisa nenhuma.
Mas mesmo assim, eu já posso dizer que completei uma Ultramaratona!
(descanso? que nada, nesta semana tem um Duathlon!)