sábado, 29 de setembro de 2018

Melhorias (e algumas falhas) na 26ª Maratona de Revezamento Pão de Açúcar


Correr provas tradicionais é sempre assim, o corredor tem a confiança de que o evento será bem organizado, mas não deixa de ter o olho mais aguçado para encontrar pontos de crítica. Mas como as melhorias superam os poucos erros da 26ª Maratona de Revezamento Pão de Açucar em São Paulo, o saldo positivo é motivo de elogio, dada toda a logística que demanda uma prova com expressivo número de participantes (aproximadamente 16.500 como divulgado no dia seguinte) e em vias importantes da cidade.

Mantendo sua oferta de equipes de 8, 4 ou 2 participantes para completar os 42,2 Km de uma maratona, o percurso de 2018 inovou com um trecho na Av. República
do Líbano, ao lado do Parque do Ibirapuera, que forneceu menos asfalto da Av. 23 de Maio e consequentemente menos sol nos bonés dos corredores. Mais agradável, a avenida arborizada é palco de muitos outros eventos de corrida da cidade, que também ajuda na familiaridade para o atleta que participa de provas na região.

Mas a grande sacada deste ano foi manter todos (sim, todos!) os postos de troca das equipes de 8 atletas dentro do Parque do Ibirapuera, o que evitou o stress de ter que se deslocar até pontos distantes da estrutura de largada/chegada. Quando corri esta prova pela primeira vez em 2006, lembro que era o 2º. atleta de uma equipe de 8, tendo que sair em disparada para um ponto de troca na Av. Rubem Berta, ou seja, foi quase mais uma “perna” de 5 Km de prova,
tendo sido mantido este formato até o ano passado. Já para as equipes de 4 e 2 atletas, os postos de troca estavam bem em frente à área de largada, completando voltas de aproximadamente 10 Km de acordo com a quantidade de atletas no revezamento. Mesmo tendo que fazer 2 voltas para completar os 21 Km da minha parte, achei o percurso novo bem mais agradável, tirando-se, é claro, o calor de mais de 30 graus na segunda metade da prova.


Outro ponto positivo é o preço da inscrição para corredores cadastrados no programa de fidelidade PA Mais, que reduzia em 40% o valor a ser pago para cada atleta. Porém, ao tentar usufruir dos benefícios do cliente da marca através do aplicativo de celular, como anunciado na entrega dos kits, não consegui completar meu cadastro
por erro do programa e não tive acesso à área exclusiva. Também referente aos kits, ao retirar o da nossa dupla os respectivos números de peito não foram localizados, gerando um atraso de mais de 10 minutos para ser atendido, envolvendo 3 funcionários para resolver o problema e recebendo um número que até o momento não tem resultado oficial registrado.

Hidratação perfeita, com água sempre gelada nos postos muito bem espalhados pelo percurso, excelente sinalização e policiamento de trânsito, muitas atrações na arena com espaços dos patrocinadores e muitos brindes, kit melhor que o do ano anterior (camiseta e mochila de melhor qualidade). Ainda há um ponto que precisa muito ser melhorado: a prova possui duração máxima de 5 horas, porém ao passar minha 2ª volta pelo posto de troca das equipes de 8 atletas percebi que ainda havia 2 e até 3 corredores que ainda iriam largar no revezamento em seus times, ou seja, excederiam facilmente o tempo limite, já que completamos nosso percurso de dupla em
(aproximadamente) 4 horas e 30 minutos. Acredito que esta regra precisa ser melhor explicada na inscrição e na retirada de kit, pois muitos corredores vão para a largada com a sensação de que podem caminhar e os outros membros da equipe irão literalmente correr atrás do prejuízo, mas não é assim que funciona em provas de revezamento.


Como disse no início, pequenas situações que não tiram a grandeza de uma prova tradicional e que vale a pena participar. Pena que neste ano só consegui arranjar uma dupla na última semana, pois ninguém queria enfrentar os 21 Km comigo,
o que acarretou em menor preparo para a distância. Agradecimentos, é claro, à colega Ivana que topou mais uma maluquice e à rádio Mix FM 106.3 pelo kit presenteado em uma brincadeira de perguntas e respostas.

domingo, 2 de setembro de 2018

A linha de chegada da Comrades Marathon 2018!


Só quem já entrou na reta final de uma corrida, seja curta ou longa, sabe como é a emoção de estar perto de concluir o objetivo. Ninguém inicia no mundo das corridas com uma maratona ou prova de resistência, a maioria experimenta distâncias como 5 ou 6 Km, talvez até menores, e depois gradativamente evolui para trajetos longos. Este que lhes escreve começou em 2006 em uma prova que possuía as distâncias de corrida 5 Km, 10 Km e caminhada 5 Km, completando esta última e recebendo, extasiado, uma medalha de latão envernizada com o nome da prova e o símbolo de um grande banco (já extinto) que patrocinava o evento, pendurada em uma fita de cetim. Mas não foi isto que me lançou no mundo das corridas, e sim estar na pista contrária da Av. 23 de Maio em São Paulo durante a caminhada e ver a manada de gente vindo do outro lado correndo. Neste momento, o tal bichinho da corrida me picou, e 12 anos depois olha onde eu vim parar... nos metros finais da Comrades Marathon 2018!

Como expliquei no post anterior, apesar de não ter mais as infindáveis subidas e descidas que deixamos para trás no percurso entre as cidades de Pietermaritzburg e Durban, o trecho plano e o tempo de sobra não inspirava ninguém a correr os menos de 2 Km até o gigantesco estádio de futebol Moses Mabhida que nos aguardava ao final. E a medida que nos aproximávamos, a imponente construção, herança da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul, parecia cada vez mais grandiosa com suas luzes acessas e a vibração que vinha do público em seu interior. Ao longo da via muitos torcedores nos saudavam, incentivando com as palavras “push! push! push!” que ouvimos várias vezes ao longo do dia, nos meus 90 Km mais incríveis - e únicos, diga-se - que já havia percorrido.


É hora do protocolo final, estamos em terras estrangeiras, um povo amigo e que nem parece estar do outro lado do Oceano Atlântico pelo entusiasmo com que recebe os brasileiros. A palavra “comrades” significa “camaradas” e a prova faz jus ao seu significado, valorizando sua história e tradição. Saquei então a querida bandeira do Brasil, que ia de um braço a outro e ainda acrescentei uma bandeirola da África do Sul, como forma de homenagem e agradecimento a este país incrível que nos dava este evento grandioso. Quando subimos a calçada do estádio, um cronômetro enorme dizia o tempo de prova, e eu tinha mais de 20 minutos para percorrer uns 100 metros até a linha de chegada.

Bom, acho que dá para correr mais um pouco...


(vídeo feito com celular, infelizmente esqueci a câmera de esportes no hotel...)

Deu para escutar no vídeo o berro que eu dei ao embicar na entrada do estádio? A emoção é indescritível, tenho mais de 250 linhas de chegadas em diversos tipos de provas, até mesmo em dois Ironman, mas esta é uma que não se esquece jamais. O público em alvoroço, o locutor incentivando, os corredores animados ao redor. E após 11 horas, 41 minutos e 10 segundos depois de largar, você escuta o beep do seu chip passando sobre o tapete de cronometragem, e entre todos os outros sons ao redor, sabe que aquele ali foi produzido por você. Fim.


Missão cumprida, corredor 33522, estrangeiro, país de origem Brasil, você foi o 13.944º colocado de um total de 19.062 que largaram e concluiu a 93ª. Comrades Marathon, edição 2018. Da largada até a chegada, 90.184 metros de distância. 

Tradicionalmente ela tem apenas 29 milímetros,
menor que a maioria das moedas,
te faz pensar não no tamanho da medalha, mas da conquista
Quanta coisa eu ainda poderia te contar sobre tudo o que envolve a prova, trajeto, chegada, treinos, decepções ao longo do caminho até o grande dia, dor durante o percurso, enfim, um blog não comportaria tudo isso. Mesmo assim, este momento merecia ser compartilhado com quem passa aqui, não para me exaltar, mas para te incentivar a buscar coisas grandes e difíceis, pois as pequenas e fáceis você tem a todo momento.


Hoje é dia 02 de setembro de 2018, em algumas horas as inscrições da Comrades 2019, percurso inverso entre Durban e Pietermaritzburg, vão iniciar. É só acessar o site da prova, preencher o cadastro e pagar, depois são mais de 8 meses para comprovar uma maratona em menos de 5 horas e registrar o resultado, simples assim. Ou não. Dá um enorme aperto no coração saber que nesta próxima não estarei, não por motivo financeiro ou de achar que não conseguiria fazer tudo de novo, mas por ter outros objetivos na corrida para os próximos anos. Minha estória com a Comrades previa uma única conclusão, e assim foi. Em breve, novos desafios.

Mas com certeza o mundo fica menor depois de uma Comrades...