Só quem já entrou na reta final de uma corrida, seja curta
ou longa, sabe como é a emoção de estar perto de concluir o objetivo. Ninguém
inicia no mundo das corridas com uma maratona ou prova de resistência, a maioria
experimenta distâncias como 5 ou 6 Km, talvez até menores, e depois
gradativamente evolui para trajetos longos. Este que lhes escreve começou em
2006 em uma prova que possuía as distâncias de corrida 5 Km, 10 Km e caminhada
5 Km, completando esta última e recebendo, extasiado, uma medalha de latão
envernizada com o nome da prova e o símbolo de um grande banco (já extinto)
que patrocinava o evento, pendurada em uma fita de cetim. Mas não foi isto que
me lançou no mundo das corridas, e sim estar na pista contrária da Av. 23 de
Maio em São Paulo durante a caminhada e ver a manada de gente vindo do outro
lado correndo. Neste momento, o tal bichinho da corrida me picou, e 12 anos
depois olha onde eu vim parar... nos metros finais da Comrades Marathon 2018!
Como expliquei no post anterior, apesar de não ter mais as
infindáveis subidas e descidas que deixamos para trás no percurso entre as
cidades de Pietermaritzburg e Durban, o trecho plano e o tempo de sobra não
inspirava ninguém a correr os menos de 2 Km até o gigantesco estádio de futebol
Moses Mabhida que nos aguardava ao final. E a medida que nos aproximávamos, a
imponente construção, herança da Copa do Mundo de 2010 na África do Sul,
parecia cada vez mais grandiosa com suas luzes acessas e a vibração que vinha
do público em seu interior. Ao longo da via muitos torcedores nos saudavam,
incentivando com as palavras “push! push! push!” que ouvimos várias vezes ao
longo do dia, nos meus 90 Km mais incríveis - e únicos, diga-se - que já havia
percorrido.
É hora do protocolo final, estamos em terras estrangeiras,
um povo amigo e que nem parece estar do outro lado do Oceano Atlântico pelo
entusiasmo com que recebe os brasileiros. A palavra “comrades” significa
“camaradas” e a prova faz jus ao seu significado, valorizando sua história e
tradição. Saquei então a querida bandeira do Brasil, que ia de um braço a outro
e ainda acrescentei uma bandeirola da África do Sul, como forma de homenagem e
agradecimento a este país incrível que nos dava este evento grandioso. Quando
subimos a calçada do estádio, um cronômetro enorme dizia o tempo de prova, e eu
tinha mais de 20 minutos para percorrer uns 100 metros até a linha de chegada.
Bom, acho que dá para correr mais um pouco...
Deu para escutar no vídeo o berro que eu dei ao embicar na
entrada do estádio? A emoção é indescritível, tenho mais de 250 linhas de
chegadas em diversos tipos de provas, até mesmo em dois Ironman, mas esta é uma
que não se esquece jamais. O público em alvoroço, o locutor incentivando, os
corredores animados ao redor. E após 11 horas, 41 minutos e 10 segundos depois
de largar, você escuta o beep do seu chip passando sobre o tapete de
cronometragem, e entre todos os outros sons ao redor, sabe que aquele ali foi
produzido por você. Fim.
Missão cumprida, corredor 33522, estrangeiro, país de origem
Brasil, você foi o 13.944º colocado de um total de 19.062 que largaram e
concluiu a 93ª. Comrades Marathon, edição 2018. Da largada até a chegada,
90.184 metros de distância.
Tradicionalmente ela tem apenas 29 milímetros, menor que a maioria das moedas, te faz pensar não no tamanho da medalha, mas da conquista |
Quanta coisa eu ainda poderia te contar sobre tudo o que
envolve a prova, trajeto, chegada, treinos, decepções ao longo do caminho até o grande dia, dor durante o percurso,
enfim, um blog não comportaria tudo isso. Mesmo assim, este momento merecia ser
compartilhado com quem passa aqui, não para me exaltar, mas para te incentivar a buscar coisas grandes e difíceis, pois as pequenas e fáceis
você tem a todo momento.
Hoje é dia 02 de setembro de 2018, em algumas horas as inscrições da Comrades 2019, percurso inverso entre Durban e Pietermaritzburg, vão iniciar. É só acessar o site da prova, preencher o cadastro e pagar, depois são mais de 8 meses para comprovar uma maratona em menos de 5 horas e registrar o resultado, simples assim. Ou não. Dá um enorme aperto no coração saber que nesta próxima não estarei, não por motivo financeiro ou de achar que não conseguiria fazer tudo de novo, mas por ter outros objetivos na corrida para os próximos anos. Minha estória com a Comrades previa uma única conclusão, e assim foi. Em breve, novos desafios.
Mas com certeza o mundo fica menor depois de uma Comrades...
Deve ser fantástico completar uma prova desta. Imagino a emoção ao cruzar a linha de chegada.
ResponderExcluirAbraço e que venha novos desafios pela frente.
Sucesso aí amigo.
#tuttamaratonista
Tutta, a emoção é realmente indescritível, nos metros finais, quando você lembra tudo o que passou ao longo do percurso é algo para lembrar pelo resto da vida!
ExcluirGrande abraço!