Contando um pouquinho do que aconteceu entre este momento de compra das entradas para o Setor A do Sambódromo do Rio de Janeiro e o instante em que elas efetivamente chegaram pelo correio, nosso país atravessou períodos de grande instabilidade política e social. Desanimado, como muitos brasileiros, eu não queria mais saber de Olimpíada, não via muitos motivos para celebrar os jogos aqui. Mas com a proximidade do evento resolvi encarar a questão que eu levantei lá no começo do texto e agitei formas de chegar à Cidade Maravilhosa, curtir o evento e voltar para São Paulo no mesmo dia. Teria que vale a pena.
E valeu. Não vou falar de centavos, dinheiro a gente trabalha, ganha e gasta o tempo todo, mas aquele momento era algo que não existiria nunca mais, mesmo que novos jogos no futuro sejam realizados na cidade ou em nosso país. Apesar da adaptação feita para que a competição tivesse largada e chegada no Sambódromo e não no Estádio Olímpico, por diversos motivos que aqui não vem ao caso, seria um momento em que o esporte que eu adoro e pratico teria seu momento máximo, e por isto não poderia ser menosprezado. A facilidade de acesso por transporte público ajudou muito a chegada ao local, o que garantiu um evento mais organizado ainda.
Chuva. Bom, isto não constava no ingresso, mas é a mesma coisa que temos que enfrentar ao se inscrever em uma corrida e o clima não colaborar. Enquanto gotas pesadas caíam do céu carioca, faltando 10 minutos para a largada os guerreiros entram na arena, aquecendo, trotando e acenando para o público, totalmente em festa. Para os heróis brasileiros que ali estavam entre os mais de 150 competidores, multidão ensandecida, gritando “Brasil! Brasil!” e seus nomes: Solonei Rocha da Silva, Paulo Roberto de Almeida Paula e nosso grande Marilson Gomes dos Santos, em sua terceira e última maratona olímpica.
Pontualmente às 09:30 eles largaram, rumo ao Aterro do Flamengo onde dariam 3 voltas de aproximadamente 10 Km e completariam os 42 Km pelo centro do Rio de Janeiro, após passar pelo Boulevard Olímpico.
Para quem estava no Sambódromo, apesar de parecerem 2 horas “de bobeira”, a coisa não foi bem assim: dois telões mostravam as imagens da prova, contudo um pouco mal posicionados em relação ao público de alguns setores. Apesar da liberdade de sair para as áreas comuns do Sambódromo para compra de comes e bebes, a maioria preferiu ficar nas arquibancadas, que lotavam gradualmente conforme a prova avançava pela manhã que já abria um pouco os céus. Até mesmo a escola de samba carioca União da Ilha do Governador apareceu para fazer um desfile de mais de 600 integrantes pela Marquês de Sapucaí, alegrando ainda mais os presentes.
Pelo placar eletrônico e pelos telões era possível ver que nossos maratonistas não disputavam o pódio, mas mesmo assim os ânimos não se acalmaram, o público ansiava para ver quem seriam os melhores corredores de longa distância que o planeta oferecia naquele 21 de Agosto de 2016 na cidade do Rio de Janeiro.
E lá vem eles, medalha de ouro para Eliud Kipchoge do Quênia, prata para Feyisa Lilesa da Etiópia e bronze para Galen Rupp dos Estados Unidos. Campeões olímpicos, bem ali na minha frente! Nossos atletas, bravamente chegaram em 15º lugar – Paulo Roberto, 59º. Marilson e 78º. Solonei, agitando nossa bandeira, recebidos com muita alegria pelos brasileiros nas arquibancadas. Mas o ouro mesmo vai para o público, que aplaudiu e vibrou com cada corredor que se aproximava do pórtico, alguns mancando, outros até mesmo caídos a poucos metros da chegada, todos ali eram campeões e os espectadores comemoravam cada um que concluía o percurso.
Os momentos finais da prova foram realmente emocionantes, quando dois atletas cruzaram a entrada do sambódromo e os portões externos foram fechados, indicando o fim da maratona masculina. Methkal Abu Drais da Jordânia vinha em último, e na sua frente Kuniaki Takizaki do Camboja que deu um sprint final e cruzou a chegada ovacionado pelo público. Animado com a festa, pulou, festejou, dançou, acenou para as arquibancadas, que imediatamente identificaram o país na camiseta e passaram a gritar “Camboja! Camboja!” para alegria total do atleta. Então diga, em que outro país do mundo você vai ver uma festa como esta? A expressão “o melhor do Brasil é o brasileiro” justificava o momento. Detalhe: ao sair do local do evento, o atleta foi novamente ovacionado e teve que tirar diversos selfies com seus novos fãs brasileiros que o interceptaram! O último colocado fechou com 02:46:18, e quero ver quem aqui se habilita a completar uma maratona com esta marca...
Infelizmente a tradição ditava que os maratonistas fossem condecorados somente na cerimônia de encerramento que aconteceria à noite no Maracanã, portanto o pódio montado apenas os presentou com o simbólico troféu olímpico, como os demais atletas ganharam ao longo das últimas duas semanas de competições.
Medalha de ouro... para mim?
Ah, não é para tanto. Mas ao tomar o rumo do Boulevard Olímpico, onde iria ver a Pira Olímpica e as demais atrações, passei por um camelô que vendia réplicas da medalha que os campeões levavam para casa (e ele jurava que era de ouro, mas custava o mesmo que um sanduíche...). Seja lá do que for, comprei uma, mas tinha que ser uma “imitação” bem-feita, até a fita escolhi para ser o mais próximo da conquista real. Guardarei medalha e ingresso com carinho, assim como a lembrança de ter conferido ao vivo pelo menos um momento dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, que revelaram e consolidaram grandes atletas e que proporcionou este momento de alegria ao nosso povo.
Alguns links bem interessantes sobre o evento:
- Resultados Maratona Masculina
- Reveja a largada da maratona masculina
- Queniano Kipchoge vence a maratona da Rio 2016
- Conheça o percurso da Maratona Masculina
- Report: Men's Marathon – Rio 2016 Olympic Games (IAAF site)
- Eliud Kipchoge wins Men's Marathon gold