segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A emoção de uma Maratona Olímpica!

Em algum ponto do ano de 2015 eu me perguntei: “será que eu terei outra oportunidade na minha vida de ver a chegada de uma Maratona Olímpica ao vivo, além dos jogos que acontecerão no próximo ano aqui no Brasil?”. E é claro, como a probabilidade é de a não ter esta chance novamente, pelo menos por um bom tempo, decidi comprar ingresso para a sessão de Atletismo Maratona Masculina dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Mas não podia ser em qualquer setor, eu queria ali pertinho da chegada, para ver os corredores cruzarem o pórtico no momento mágico de concluir 42.195 metros de distância em uma Olimpíada. Quem sou eu, mero mortal que demora mais que o dobro do tempo deles para concluir um percurso destes, mas que precisava estar ali para conferir a grandiosidade destes atletas.

Contando um pouquinho do que aconteceu entre este momento de compra das entradas para o Setor A do Sambódromo do Rio de Janeiro e o instante em que
elas efetivamente chegaram pelo correio, nosso país atravessou períodos de grande instabilidade política e social. Desanimado, como muitos brasileiros, eu não queria mais saber de Olimpíada, não via muitos motivos para celebrar os jogos aqui. Mas com a proximidade do evento resolvi encarar a questão que eu levantei lá no começo do texto e agitei formas de chegar à Cidade Maravilhosa, curtir o evento e voltar para São Paulo no mesmo dia. Teria que vale a pena.

E valeu. Não vou falar de centavos, dinheiro a gente trabalha, ganha e gasta o tempo todo, mas aquele momento era algo que não existiria nunca mais, mesmo que novos jogos no futuro sejam realizados na cidade ou em nosso país. Apesar da adaptação feita para que a competição tivesse largada e chegada no Sambódromo e
não no Estádio Olímpico, por diversos motivos que aqui não vem ao caso, seria um momento em que o esporte que eu adoro e pratico teria seu momento máximo, e por isto não poderia ser menosprezado. A facilidade de acesso por transporte público ajudou muito a chegada ao local, o que garantiu um evento mais organizado ainda.

Chuva. Bom, isto não constava no ingresso, mas é a mesma coisa que temos que enfrentar ao se inscrever em uma corrida e o clima não colaborar. Enquanto gotas pesadas caíam do céu carioca, faltando 10 minutos para a largada os guerreiros entram na arena, aquecendo, trotando e acenando para o público, totalmente em festa. Para os heróis brasileiros que ali estavam entre os mais de 150 competidores, multidão ensandecida, gritando “Brasil! Brasil!” e seus nomes: Solonei Rocha da Silva, Paulo Roberto de Almeida Paula e nosso grande Marilson Gomes dos Santos, em sua terceira e última maratona olímpica.


Pontualmente às 09:30 eles largaram, rumo ao Aterro do Flamengo onde dariam 3 voltas de aproximadamente 10 Km e completariam os 42 Km pelo centro do Rio de Janeiro, após passar pelo Boulevard Olímpico.


Para quem estava no Sambódromo, apesar de parecerem 2 horas “de bobeira”, a coisa não foi bem assim: dois telões mostravam as imagens da prova, contudo um pouco mal posicionados em relação ao público de alguns setores. Apesar da liberdade de sair para as áreas comuns do Sambódromo para compra de comes e bebes, a maioria preferiu ficar nas arquibancadas, que lotavam gradualmente conforme a prova avançava pela manhã que já abria um pouco os céus. Até mesmo a escola
de samba carioca União da Ilha do Governador apareceu para fazer um desfile de mais de 600 integrantes pela Marquês de Sapucaí, alegrando ainda mais os presentes.

Pelo placar eletrônico e pelos telões era possível ver que nossos maratonistas não disputavam o pódio, mas mesmo assim os ânimos não se acalmaram, o público ansiava para ver quem seriam os melhores corredores de longa distância que o planeta oferecia naquele 21 de Agosto de 2016 na cidade do Rio de Janeiro.


E lá vem eles, medalha de ouro para Eliud Kipchoge do Quênia, prata para Feyisa Lilesa da Etiópia e bronze para Galen Rupp dos Estados Unidos. Campeões olímpicos, bem ali na minha frente! Nossos atletas, bravamente chegaram em 15º lugar – Paulo Roberto, 59º. Marilson e 78º. Solonei, agitando nossa bandeira, recebidos com muita alegria pelos brasileiros nas arquibancadas. Mas o ouro mesmo vai para o público, que aplaudiu e vibrou com cada corredor que se aproximava do pórtico, alguns mancando, outros até mesmo caídos a poucos metros da chegada, todos ali eram campeões e os espectadores comemoravam cada um que concluía o percurso.



Os momentos finais da prova foram realmente emocionantes, quando dois atletas cruzaram a entrada do sambódromo e os portões externos foram fechados, indicando o fim da maratona masculina. Methkal Abu Drais da Jordânia vinha em último, e na sua frente Kuniaki Takizaki do Camboja que deu um sprint final e cruzou a chegada ovacionado pelo público. Animado com a festa, pulou,
festejou, dançou, acenou para as arquibancadas, que imediatamente identificaram o país na camiseta e passaram a gritar “Camboja! Camboja!” para alegria total do atleta. Então diga, em que outro país do mundo você vai ver uma festa como esta? A expressão “o melhor do Brasil é o brasileiro” justificava o momento. Detalhe: ao sair do local do evento, o atleta foi novamente ovacionado e teve que tirar diversos selfies com seus novos fãs brasileiros que o interceptaram! O último colocado fechou com 02:46:18, e quero ver quem aqui se habilita a completar uma maratona com esta marca...


Infelizmente a tradição ditava que os maratonistas fossem condecorados somente na cerimônia de encerramento que aconteceria à noite no Maracanã, portanto o pódio montado apenas os presentou com o simbólico troféu olímpico, como os demais atletas ganharam ao longo das últimas duas semanas de competições.

Medalha de ouro... para mim?

Ah, não é para tanto. Mas ao tomar o rumo do Boulevard Olímpico, onde iria ver a Pira Olímpica e as demais atrações, passei por um camelô que vendia réplicas da
medalha que os campeões levavam para casa (e ele jurava que era de ouro, mas custava o mesmo que um sanduíche...). Seja lá do que for, comprei uma, mas tinha que ser uma “imitação” bem-feita, até a fita escolhi para ser o mais próximo da conquista real. Guardarei medalha e ingresso com carinho, assim como a lembrança de ter conferido ao vivo pelo menos um momento dos Jogos Olímpicos do Rio 2016, que revelaram e consolidaram grandes atletas e que proporcionou este momento de alegria ao nosso povo.


Alguns links bem interessantes sobre o evento:


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

A Histórica Corrida do Centro Histórico

Da série “corridas que não cansamos de correr”, meu melhor exemplo é a tradicional Corrida do Centro Histórico, que teve sua edição de número 21 neste último dia 14 de agosto na gelada região central da metrópole paulistana. Apesar do carinho que tenho por esta prova, neste ano não iria correr por estar aproveitando um período de “descanso” após duas maratonas quase seguidas, mas fui sorteado em um concurso da Federação Paulista de Atletismo através do programa Sócio Corredor, e como dizer não a um presentão desses? Na tradicional distância de 9 Km, fácil acesso e ótimo horário de largada, aceitei prontamente o convite e lá fui eu relembrar outras edições.

Um pouco da prova primeiro: organizada pela Corpore, a Corrida do Centro Histórico tem como ponto principal passar pelos principais marcos da região central da cidade de São Paulo, como Viadutos do Chá e Santa Ifigênia, Praça da Sé, Av. Ipiranga, Teatro Municipal e várias ruas clássicas para o paulistano. E quem conhece a região sabe, nada ali é plano, subidas e descidas estraçalham a musculatura de quem corre, e a emoção de usar as mesmas vias que durante a semana estão entupidas de carros, ônibus, táxis e pessoas para praticar esporte, é uma sensação deliciosa. O acesso é o melhor de todas as provas da cidade, a saída do Metrô São Bento
coloca o corredor praticamente na arena no evento, facilitando chegar e ir embora sem maiores dificuldades.

Retirada de kit muito rápida e organizada na loja Decathlon do Shopping Center Norte, também de fácil acesso pela Marginal Tietê ou até mesmo Metrô na estação Tietê, camiseta de manga longa já tradicional do evento muito bonita e de boa qualidade, além de número de peito e sacola do evento. Largada pontual às 07:00 da manhã, porém é de se estranhar a total ausência de controle no acesso às supostas
baias de largada, além da falta de educação de alguns corredores que simplesmente rasgaram as fitas que separavam cada pelotão para avançar à frente. Mesmo assim, a largada aconteceu sem atropelos, que é o grande prejuízo quando as pessoas não respeitam seus limites de tempo. E mais um resultado esperado para minhas capacidades, 50:36, e como eu disse, percurso com altimetria bem variada.


Esta prova tem um sabor especial para mim, dez anos atrás, quando comecei a correr, ganhei de brinde uma lesão na tíbia nos primeiros meses, uma fissura por stress. O médico mandou não correr por um tempo, e quando voltei, esta foi a primeira corrida que fiz. A sensação de vitória foi tremenda, outras lesões viriam, uma inclusive que eu carrego neste exato momento, mas a batalha continua. Em outras edições, lembro que foi o dia da Maratona das Olimpíadas de 2012 em Londres, e outra lembro que
tive uma noite de sono péssima, mas que mesmo assim corri numa boa na hora da prova. Em outra, lembro que a empresa que trabalhava patrocinava o evento, e “dominamos” com nosso uniforme pelo trajeto todo, uma festa e tanto. Por falar em empresa, o percurso passa por vários locais onde trabalhei, estudei, prestei serviços, enfim, parte de minha estória está ali no centro de São Paulo, local que se tivesse um pouco menos de descaso das últimas administrações municipais, seria nosso maior cartão postal. Para completar, esta edição de 2016 também aconteceu em um dia de Maratona Olímpica, na modalidade feminina no Rio de Janeiro.

Como você pode ver, motivos para correr não faltavam.

Agradecimentos à Federação Paulista de Atletismo pela cortesia!

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

ASICS City Marathon: padrão internacional!

Imagine a corrida perfeita. Bom, sinto dizer, mas ela não existe, porém dá para chegar muito perto da excelência. Isto sem contar que a primeira edição já foi um sucesso de público, organização, estrutura e acima de tudo, respeito ao atleta. A Asics São Paulo City Marathon aconteceu no último 31 de julho e proporcionou uma experiência de corrida maravilhosa aos participantes, do processo de inscrição ao pós-prova. Claro, alguns pequenos inconvenientes, mas comparado com outros eventos, alguns com mais de vinte edições e que o organizador não aprende a fazer ajustes, pode ser considerada uma das melhores corridas do ano na capital paulista.

Antes de mais nada, minha participação não foi através de cortesia, desembolsei R$ 150,00 de inscrição e mais R$ 20,00 de ônibus da organização para poder voltar à área de largada, portanto os elogios são sinceros. Quem me conhece já sabe, a crítica viria se as expectativas não tivessem sido atendidas, mas foram superadas. O site do evento deixou bem claro todos os detalhes, estrutura, processo de inscrição, ofereceu ônibus para a transição das áreas chegada-largada e indicou transporte público adequando a estes locais. Sim, um valor um pouco acima do que estamos dispostos a desembolsar em um país em crise econômica, mas valeu cada centavo.

Nos dias que antecederam o evento, a estrutura montada para a entrega de kits contava com uma expo com diversos stands de patrocinadores, empresas do setor de esportes e corrida, uma loja exclusiva dos produtos da Asics e diversas palestras relacionadas, além de algumas específicas que tratavam os detalhes do percurso de 21 e 42 Km por profissionais experientes. Infelizmente foi necessário um espaço adequado para tudo isso, e a escolha do pavilhão da Expo Transamérica causou um pouco de transtorno para os que moram do outro lado da metrópole como é o meu caso. Também devido à distância e ao pouco tempo que tive para a retirada do kit, foi impraticável aproveitar melhor a feira e as palestras, terá que ficar para uma próxima participação.

Um diferencial da prova foi a data escolhida, em pleno inverno paulista, e largada cedo, com a primeira onda de corredores partindo às 06:00 da manhã de um domingo gelado na região do Estádio do Pacaembu. O primeiro inconveniente grave aconteceu aí, pois o sistema de guarda-volumes em ônibus gerou filas que se cruzavam, além de pouco preparo de alguns staffs, tudo isso com a escuridão da madrugada ainda prevalecente. Um pouco de aborrecimento para os corredores, mas tudo resolvido, é hora de correr.

As ondas largaram pontualmente às 06:00, 06:10 e 06:20 da manhã, todas com uma modesta festa devido ao horário e pelo fato do entorno da Praça Charles Miller ser cercado de prédios residenciais, porém com muito incentivo aos atletas. Na minha bateria, a última a largar, a banda da Polícia Militar do Estado de São Paulo, em suas peças executadas ainda encaixou um pouco do tema musical do filme “Gladiador”, que encheu as veias dos corredores de adrenalina para enfrentar a meia e a maratona que estavam prestes a começar.

Partimos então para um percurso que em grande parte faz jus à dimensão da cidade de São Paulo, passando pela região do Pacaembu, Centro Histórico, subindo a temida Av. Brigadeiro Luiz Antônio na altura do Km 10 do trajeto, atravessando a Av. Paulista, descendo até a região do Ibirapuera, Itaim, cruzando por baixo da Marginal do Rio Pinheiros e Jockey Club. Neste ponto os atletas dos 21 Km tomavam seu rumo em direção à chegada, já com quilometragem diferente dos maratonistas, pois no trecho do Ibirapuera estes deram uma esticada em volta do Obelisco. Seguimos então em direção à Ponte da Cidade Universitária, Parque Villa Lobos e voltamos para a USP, local de treino da maioria dos paulistanos nos sábados pela manhã. Voltando à região do Jóquei Club, uma última voltinha e o clima de chegada olímpica era total, já com os corredores eufóricos pela missão cumprida. Este aqui novamente baixou um pouco mais (alguns segundos) na distância dos 42 Km, fechando com 04:36:28 pelo tempo oficial.


O clima estava perfeito, muito gelado no início e esquentando aos poucos, o que garantiu uma performance boa para a grande maioria, talvez um pouco seco pela ausência de chuvas no mês de julho, mas ainda assim muito bom para correr. A prova teve uma estrutura perfeita ao longo do percurso, hidratação farta, Gatorade (esgotado somente no primeiro posto), esponja para resfriamento, gel de carboidrato, banana e até a distribuição de um creme contra assaduras. Sinalização muito bem posicionada, direcionamento do trânsito sem nenhum stress com os motoristas, postos de apoio muito bem posicionados. Enfim, uma estrutura de prova internacional, sendo a última reclamação de novo quanto ao guarda-volumes, pois ao chegar ao Jóquei Clube, o atleta precisava se deslocar quase 1 Km a mais para retirar seus pertences e voltar ao local de saída para o transporte disponibilizado pela organização. Pequena falha, com certeza será melhorada nas próximas edições.

Um ponto a ser levado em consideração é a existência de apenas duas distâncias nesta prova, 21 e 42 Km, que limita o perfil dos corredores inscritos. Não me entenda mal, eu adoro provas de 5 e 10 Km, participo sempre que possível, mas chegamos nestes eventos com outro astral, diferente de uma prova longa, onde ritmo deve ser levado em conta desde o início. Acredite, faz bastante diferença para o trecho inicial dividir o asfalto com quem está preparado para encarar horas de corrida ou com quem veio para terminar a atividade em menos de uma hora.


E por isso mesmo fica a expectativa de que a prova seja realizada novamente nos próximos anos, uma maratona a ser encaixada no calendário do corredor brasileiro.