OK, OK, eu sei que não é nenhum
fato inédito e tem gente que faz coisa muito pior. Meu ídolo Dean Karnazes
correu 50 maratonas (distância na verdade) em 50 estados norte-americanos em 50
dias consecutivos, mas ele é “o cara” e eu sou “um cara”. Então, por não ser
nada tão digno para ser convidado para o próximo filme dos Vingadores, vou
compartilhar a experiência de mais uma insanidade.
Maratona Internacional de São
Paulo, 08/04/2018
Todo ano é a mesma coisa: “ano
que vem eu não vou, prova encardida, precisa melhorar muito!”, é o mantra
entoado geralmente logo após a chegada, com as pernas doloridas e desidratado.
Mas eu não aguento, basta chegar um e-mail de primeiro lote com preço
promocional, e o irresponsável aqui paga a inscrição mesmo sem ter o
planejamento de provas do ano seguinte.
É nitidamente uma estória de amor e
ódio de quase 10 anos entre eu e a nossa principal prova de 42 Km na cidade,
que agora disputa com outra seu lugar ao sol. Aliás, sol é o que não falta todo
ano na Maratona de São Paulo, por mais que a organização tente puxar a data
para o início do outono, sempre espirra uns raios do astro rei no final para os
mais lentos, tipo eu.
Não vou falar muito desta prova,
tem posts anteriores que a descrevem bem, basta mencionar que foi o melhor
tempo que tive na danada, 04:27:48. Larguei forte para aproveitar o clima
nublado que persistiu até o trecho da USP, inclusive na pentelha Av.
Politécnica. Depois, com o sol, resolvi diminuir um pouco e aproveitar para
preservar a carroceria, afinal, na sequência tinha mais asfalto me
esperando....
Interlúdio: Treinar ou Polir?
O tal período de “polimento”,
onde são feitos treinos leves, foi para o espaço. Entre uma maluquice e outra, deveria
levar na boa as duas semanas, onde saí bem dolorido da Maratona de São Paulo,
mas o fato é que eu me cobrei 49 Km de treinos na primeira semana e mais 48 na
segunda. Não tem segredo, porém duas coisas contribuíram muito: a natação, dois
dias após a prova, onde pude soltar os músculos doloridos e na quinta-feira um
pequeno treino regenerativo na esteira. Comecei duro, no Km 1 pensei que não ia
aguentar correr, quando cheguei no 2 estava bem, e no 3, onde deveria parar,
tive vontade de continuar correndo.
Ou seja, back in business...
Maratona Nilson Lima de
Uberlândia, 22/04/2018
Adorei conhecer Uberlândia,
cidade grande do interior de Minas Gerais, uma joia do nosso Brasil. Povo muito
bacana, corredores recepcionados no aeroporto, excelente hotel Gran Executive muito
flexível para acomodar a todos e prover a melhor experiência de estadia, e é
claro, muito, mas muito, pão de queijo daqueles deliciosos que só nossos
vizinhos mineiros sabem fazer. Antes da prova, no hotel uma palestra com ilustres ultramaratonistas: o próprio Nilson Lima que dá nome ao evento (até aquele momento, 195 maratonas em todos os cantos do planeta), Nato Amaral, embaixador brasileiro da Comrades, e Bruce Fordyce, 9 vezes campeão
Nato Amaral lançando seu livro... |
...e Bruce Fordyce também autografando o volume |
Chega então o domingo da prova, e
este pangaré aqui tem a difícil tarefa de descobrir se ele realmente tem
bagagem suficiente para correr outra maratona. O dia seria ensolarado, mas a
temperatura estava muito agradável, começando nos 16 graus Celsius e podendo
chegar até 25 perto do final da prova, porém o percurso iria mostrar que
subidas e descidas castigam mais do que a própria sensação térmica. Largaríamos
às 06:30 da manhã, horário sensacional, pena que devido à uma questão de
tráfego urbano atrasou um pouco, mas nada que prejudicou aproveitar o ar frio
da manhã. Ainda tive tempo de tirar uma foto com Bruce Fordyce na largada,
coisa que todo corredor queria fazer, é claro, mas roubei o atleta sul-africano
dos demais para um selfie de última hora.
A prova mostrou-se logo de cara
dura e bem organizada, apesar de que eu tinha planejamento para cada 5 Km e as
placas eram de 2 em 2, ou seja, nos ímpares eu tinha que fazer contas para ver
se estava no meu ritmo planejado. É curioso que eu dispunha de relógio com GPS
e celular com softwares de corrida, mas queria sentir um pouco de como é correr
só com o cronômetro e saber os tempos que deveria fazer, sem música e sem meu
copiloto no celular me dizendo distância e ritmo (e errando muito como sempre).
O percurso ia praticamente até a região do aeroporto da cidade, com passagem
por um condomínio fechado e até mesmo o famoso Parque Sabiá, onde acontecia uma
final de vôlei feminina com o time local e ouvia-se a torcida em polvorosa ao
passarmos na região. Neste trecho do condomínio, cheguei a conversar um pouco
com o próprio Nilson Lima, pessoa incrível, que nos recebia em sua cidade de
braços abertos, e garanti que divulgaria a prova para os corredores de São
Paulo, que mereciam saber da existência de uma prova tão incrível como aquela.
Lembre-se, eu havia corrido a
Maratona de São Paulo 2 semanas antes, então colocar tempo em uma outra
maratona tão próxima seria insanidade. Mesmo assim eu queria terminar em
04:29:29, considerando uma margem de erro de até 5 minutos a mais, e consegui
errar por apenas 35 segundos, terminando com 04:30:34. Um resultado inédito,
pois eu nunca havia conseguido gerenciar tão bem o esforço de uma prova longa.
Sobrevivi para contar
Durante 2 semanas eu havia
percorrida quase 200 Km sobre as pernas, e isto não é um feito a ser
menosprezado quando se fala de corrida, especialmente quando se trabalha
sentado quase o dia todo. Também nunca havia colocado uma carga tão grande de
uma só vez, foi um risco, porém controlado e com objetivo definido.
Como?
Se você quer fazer alguma coisa do tipo, procure um treinador, mas se não tem, como é o meu caso, reúna o máximo de informações possível. Treine, anote, comente, ajuste, planeje e revise. Meros mortais que levam vida de escritório conseguem sim fazer este tipo de maluquice, mas não é só calçar o tênis e sair por aí, precisa de bagagem. No meu caso, foram 22 maratonas antes destas duas, além do quadro de medalhas aí a lado.
E para quê isso?
Eu já te conto, na próxima postagem...