segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Ultramaratona Bertioga-Maresias, 75 Km, Solo!!!


A cada ano eu escolho um evento para ser “a cereja do bolo”, aquele momento que fica sendo a insanidade para o calendário vigente, e ainda faltava cumprir a meta definida para 2019: correr de Bertioga, Litoral Sul de São Paulo a Maresias, já no Litoral Norte do estado. Para quem se lembra, em maio eu havia feito esta prova na modalidade 42 Km “Light”, e reforço que não existe nada de “mais leve” quando se fala em correr uma maratona. Terminei aquela prova no PC5 (os postos de controle são numerados de 1 a 7 + chegada), e fiquei com gostinho de “dava para ir adiante”. Com a segunda edição da prova marcada para 19 de outubro do mesmo ano, ajustei férias e treinamento para enfrentar o monstro novamente, desta vez em sua extensão total de 75 Km.

Largada: 05:00 da manhã, com a praia ainda escura
Vale lembrar que a prova também é disputada em dois formatos de maratona, os 42 “Light” que eu já falei e os 42 “Hard”, este largando um pouco mais tarde e com o temido trecho da serra de Maresias, além de revezamentos de 3, 6 ou 8 atletas. Mas para uns 600 malucos alinhados às 05:00 da manhã na Praia do Forte em Bertioga, o cardápio do dia trazia apenas o buffet completo, 75 Km dali até a linha de chegada. E lá estava eu de novo, apesar de já conhecer mais da metade da prova, ainda havia um trecho novo, acompanhado de uma subida e descida de serra que diziam ser brutalmente
dolorida no trecho próximo ao final. Mas, ninguém te obriga a estar ali, nem eu, nem as outras centenas de corredores e corredoras equipados com mochilas de hidratação e outros apetrechos para enfrentar o trajeto.

O dia clareando aos poucos... e hoje vai ter sol!
Uma grande diferença entre as provas de maio e outubro logo ficou clara, aliás, bem clara: o próprio céu. Em maio o dia estava chuvoso e a claridade só começou com mais de uma hora de prova, condições bem diferentes desta edição de outubro, onde logo o dia amanheceu e o sol prometeu nos acompanhar dali em diante. Aliás, quem foi que o convidou? Também mudei minha estratégia de abastecimento, pois da outra vez pedi para a esposa ir de carro até o PC3 (mais ou menos 21 Km) para repor líquidos e alimentação e depois esperar na chegada no PC5. Resolvi que como o
trajeto era maior, esticaria a primeira parada direto no PC5 e depois somente na chegada. Mesmo com a promessa de calor para o dia, conseguiria manter o abastecimento com meu estoque de 2,5 litros de água na mochila de hidratação, 600 ml de isotônico e os copinhos distribuídos a cada mais ou menos 5 Km pela organização.

O pior trecho da primeira parte da prova estava entre os PC4 e PC5, uma distância de 14 Km, sendo mais de 7 Km de areia, entre as Praias de Boraceia e Jureia, e foi exatamente neste ponto que o calor pegou forte na cabeça dos corredores. O objetivo final era contornar o Morro da Jureia, mas este crescia lentamente à nossa frente, enquanto os atletas espremiam cada gota de água que podiam. No tal PC5, encontrei a esposa e além de repor líquidos e outros mantimentos, precisei trocar de tênis no meio da prova. Neste último longo trecho passei a sentir que meus dedos mindinhos dos 2 pés estavam sendo massacrados dentro do modelo de trilha que usava, mas como tinha na mochila de emergência no carro de apoio um par extra também de trilha, porém um pouco mais largo, não tive outra escolha a não ser pegar o celular e mandar uma mensagem, informando que precisaria desta manutenção no posto de controle.
Além das praias, trechos na BR-101
Apesar do cansaço, tudo ajeitado, tênis trocado e vamos para mais 3 trechos de mais ou menos 10 Km pela frente. A segunda parte da prova, desconhecida para mim, era realmente digna de receber a denominação “hard“ comparada à outra, pois logo de saída fomos jogados em uma “sauna verde”, uma área que contornava o Morro do Engenho e seguia até Barra do Una, onde as primeiras subidas reais da prova já apareciam. Um belo mirante proporcionava uma vista sensacional da praia, e seguimos em direção às Praia de Juquehy e Baleia, sempre tendo que desviar em alguns momentos para a rodovia BR-101 devido à geografia da região. Mas dentro da minha “cereja do bolo” logo adiante teríamos o verdadeiro “caroço”.
Trilhas? Tem sim, pé na lama, de novo!
Logo após as praias de Camburi e Boiçucanga, a temida Serra de Maresias nos esperava. Segundo algumas corredoras que estavam em ritmo parecido com o meu (leia-se, andando em diversos trechos) seriam 4 Km de subida e mais uns 3 Km de descida. Difícil saber com exatidão, pois meu GPS ficou completamente louco nessa hora, conforme pude constatar olhando os dados coletados. O pior de tudo não era necessariamente o trecho em subida, duro, íngreme, cheio de curvas, mas a velocidade que os carros passavam pelos corredores, que em alguns momentos nem acostamento tinham para utilizar na via.
Sol rachando, e 3 Kg de equipamento e mantimento nas costas!
Ao fim de uma longa descida, que parecia não ter fim, saímos novamente em uma entrada para a praia, sim, finalmente a Praia de Maresias! Mas esta, como o próprio regulamento da prova destacada, não seria fácil. O trecho de areia é estreito, lotado de banhistas, e para completar a praia era do tipo “de tombo”, onde ou enfrentávamos a inclinação em direção às ondas para a areia mais compacta, ou a areia fofa que atrapalha muito a corrida. Revezando entre as duas opções, terminei passei pelo pórtico de chegada às 16:08:27, com mais de 11 horas de prova, o que não era exatamente o que eu pretendia ter feito. As condições do dia impuseram um ritmo mais lento, mas enfim, aqui estamos, para contar mais uma estória.

Pensa num cara moído... é esse aí mesmo...
Falando um pouco da organização, apesar do longo percurso, ela é relativamente simples, assim como o kit da prova. Foi eficiente nos trechos de postos de controle, podendo apenas ter um pouco mais de apoio ao longo do percurso, talvez com mais distribuição de água e até mesmo isotônico. O trecho de serra foi realmente o mais complicado, devido à complexidade do próprio trânsito da rodovia, talvez um ponto a ser pensado no sentido de oferecer mais segurança aos corredores.

Entendeu, ou quer que eu desenhe?
E a surpresa final, para os concluintes solo e revezamento, era este:


Uma medalha destinada ao Apoio, pois sem eles, a prova seria impossível para a maioria dos atletas! No meu caso, a esposa que teve que dirigir até o PC5 para me reabastecer e depois ir até a chegada recolher os pedaços para trazer de volta a Bertioga.

Reconhecimento merecido, mas acredite, a diversão mesmo é fazer o percurso de ponta a ponta, correndo!

Ah, parece que já está se sentido melhor... qual é a próxima mesmo???
(Algumas das fotos acima foram compradas no site FocoRadical. Escolha difícil, foram mais de 300 fotos minhas só neste site! Excelente trabalho dos fotógrafos espalhados pelo percurso.)