Todo o material que o triatleta vai usar na prova deve ser devidamente entregue no dia anterior ao evento na primeira área de transição, conhecida como “T1”, dividido nas sacolas coloridas fornecidas pela organização, inclusive com a entrada da bicicleta no local apropriado. No final da tarde de sexta-feira um céu um pouco nublado e com fortes ventos já se formava, e por sorte encontrei uma senhora que vendia capas de bicicleta à R$ 5,00 ao lado da T1. Quanto ao resto, apesar de garantido o acesso às sacolas no dia da prova, não é ideal deixar para arrumá-las antes da largada, apenas a checagem final e inclusão de um ou outro item, preferencialmente comestível.
No grande dia, o clima não é tenso na arena, afinal estamos no Brasil e aqui as pessoas fazem amigos instantaneamente, então sempre tem alguém puxando assunto com você. O staff do organizador é extremamente educado e prestativo, sem deixar virar bagunça, e constantemente são anunciados os principais comunicados da prova no sistema de som. Como a largada seria pontualmente às 09:30 horas, os atletas tem até 09:15 para fazer um pequeno aquecimento na água, depois deverão estar posicionados atrás da faixa na areia.
Eu devia estar com a maior cara de assustado, mas não era o único. Um atleta de Curitiba começou a conversar comigo pelo mesmo motivo: estávamos próximos a entrar em pânico antes da largada. Se alguém perguntasse “Está nervoso?” eu diria “Sim”... “É a primeira vez?” acho que responderia “Não, já fiquei nervoso antes!”
Mas em um Ironman, era sim a primeira vez.
E então, a buzina toca...
Pior que despertador quando você acorda atrasado, o negócio te direciona para a ação. O dia de sol prometia altas temperaturas, mas a água permanecia no gelo de sempre. Por sorte não estava agitada, apenas com uma arrebentação forte, mas a própria organização do evento deu a dica no sistema de som, informando que seria melhor se os atletas enfrentassem as ondas por baixo para não perder óculos e toucas e ao final “pegassem um jacaré” nas ondas.
Como eu não sou tão rápido assim na água e não estava afim de levar bordoadas e patadas, deixei o pessoal sair em disparada e fiquei mais para trás, estratégia usado por outros competidores também. O contorno em forma de “Y” do percurso exigia que o atleta passasse por um funil de 50 metros posicionado 300 metros a partir da areia e embicasse em outro trecho de 300 metros em direção à segunda boia. Espaço suficiente para todos, ninguém por perto, fui nadando no meu ritmo. Sabendo que o tempo de corte para esta etapa era 1 hora e 15 minutos, se passasse pela segunda boia com 20 minutos estaria ótimo, mas quando olhei no relógio, vi que só havia levado 13 minutos no trecho. Força total em direção à terceira boia, distante 600 metros, o trecho mais longo, que eu deveria chegar com 40 minutos de prova, mas dada a vantagem, passei com 31 minutos. O trecho seguinte, de 400 metros foi cansativo e eu errei um pouco a navegação, sendo por sorte direcionado por um dos fiscais de prova que sinalizou que eu iria passar o ponto da quarta boia. E o “jacaré” no final nem foi necessário, assim que senti a areia debaixo dos pés, saí cambaleando para o continente, com o tempo de 53 minutos, coisa que eu nem esperava.
T1
O pessoal do staff ajudou a desgrudar a roupa de borracha, inclusive indicando que deveríamos sentar no chão para que puxassem as pernas do traje. Rápido esguicho de água doce, pegar sacola azul do ciclismo e ir para a área de vestiário. Fui tonto, ainda estava no ritmo da água, acho que não andei em linha reta. Peguei um pequeno frasco de protetor solar e o que já havia percebido no mar se confirmou: a roupa de borracha havia causado um tremendo estrago no atrito com meu pescoço. O líquido só queimou mais ainda a região, mas não tinha jeito. Depois de 8 minutos eu já estava com capacete, manguito, luvas, óculos de sol e sapatilha de ciclismo indo em direção à bike, quase solitária entre as poucas que ainda estavam na área de transição.
E aí vai um vídeo da 3zone muito legal com a largada da prova, eu já assisti umas 20 vezes só para lembrar deste momento inesquecível:
a prova quase acabou para mim na etapa do ciclismo...