segunda-feira, 9 de maio de 2016

Maratona de São Paulo 2016: um dia da corrida, outro do corredor

Também poderia chamar este post de “uma estória de amor e ódio”, mas vamos ao que interessa. O fato é que quando enfrentamos distâncias de 42.195 metros, conhecidas como “maratonas”, fica difícil dizer não para um evento que acontece na própria cidade. Como o calendário nacional de corridas oferece no máximo um evento deste tamanho por centro urbano, dizer “não” para a prova que corre “em casa”, é uma tremenda frustração, apesar de que eu já fiz isto algumas vezes por opção própria. Mesmo sendo a maratona que tive maior número de participações, pelos motivos expostos acima, é a que mais me deu surras intermináveis de quebras e outros traumas. Vide posts anteriores sobre as edições de 2009 para cá.

Mas chega o dia em que a prova vai te encontrar em um momento melhor, e aí as coisas serão diferentes. O problema é que este dia chegou em um mês de abril extremamente seco, sem chuvas, com temperaturas absurdas até mesmo para as madrugadas e muito, muito sol. Este dia, 24 de Abril de 2016, começou às 07:00 da manhã com termômetros esbarrando nos 25 graus, raio solares violentos e uma legião de atletas dispostos a enfrentar o asfalto em chamas nas distâncias de 5 milhas (8 Km), 15 milhas (24 Km) e 42 Km. Largada única, e após o stress de todo ano na fila do banheiro químico, tomei meu rumo em direção ao pelotão. Lá se foi meu fone de ouvido, que por estar pendurado na mala, acabou caindo sem que eu percebesse. Seriam longos 42 Km sem música, mas o jeito é enfrentar.

Eu havia criado um planejamento onde a cada 10 Km diminuiria um pouquinho o ritmo, pois sabia pelas experiências anteriores que seria difícil correr em ritmo forte até o final. Cada pessoa tem seu ritmo “forte”, e o meu é próximo dos 6 minutos por Km, o que para muitos corredores seria como se arrastar, mas a corrida é e sempre será um esporte individual. Eu começaria com 06:20 minuto/Km, diminuiria 10 segundos a cada 10 Km e chegaria até a expressiva marca de 07:10 minuto/Km no trecho final. Isto, é claro, se naquela sauna em que estávamos eu conseguisse chegar ao ritmo inicial.


Para minha surpresa precisei até mesmo controlar para não correr mais rápido que o previsto no início da prova. Estava com o GPS de pulso, pois sem os fones de ouvido eu estaria sem meu fiel companheiro software de corridas para smartphone. Logo na saída enfrentamos o primeiro túnel, passando por baixo da Av. Santo Amaro. Os corredores berravam de alegria ou gritavam mantras de times de futebol, mas só no início. Do meio para a frente, com o batalhão respirando pesado e com o calor do lado externo, o local parecia mais um forno de padaria.

O tráfego humano continuava pesado, mas sem empurra-empurra ou momentos de gargalo. O calor, aumentando. Quando cheguei ao Km 10 olhei a “colinha” do planejamento e vi que era hora de diminuir um pouco. Continuei no ritmo e posterguei a diminuição de velocidade por mais alguns minutos. Encontrei colegas mais a frente, cumprimentando alguns do outro lado da pista com acenos e os que estavam no mesmo trecho com um bate-papo animador sobre nossas últimas façanhas.

Descumprindo tudo que possa parecer correto, comecei a ignorar o planejamento para valer e apertar o passo para continuar no mesmo ritmo, 06:20 / Km, talvez um pouco mais em alguns trechos. Ao sair da raia olímpica da USP para a Av. Politécnica, os corredores das 15 milhas tomavam o rumo de sua chegada, e os maratonistas ainda tinham 18 Km pela frente, com muito sol por todos os lados. Alguns já caminhavam, pois esta avenida é ingrata no que diz respeito à sombras. E este aqui, correndo mais rápido do que deveria.

Ao voltar para a USP entramos por ruas já conhecidas por aqueles que treinam lá regularmente: estátua do cavalo, rua dos bancos, raia olímpica novamente. Quando cheguei no Km 30 joguei o planejamento para o alto, vamos ver até onde vai a brincadeira. Já havia consumido balas de goma, bananinha, cápsula de sal e gel de carboidrato, só não tinha coragem de abrir o amendoim por causa do calor.

Saímos da USP já próximo do Km 34 e voltando agora para o Ibirapuera e eu que vinha bem, precisei fazer algo inesperado para o momento: caminhar. Ao subir o primeiro túnel, na região do Jóquei Clube, uma fisgada leve na coxa esquerda, sinônimo de possível câimbra a caminho. Acabando a subida, retomei a corrida, agora sim em ritmo um pouco mais próximo da realidade, mas ainda assim abaixo de 07:00 minutos/Km.
Mais túneis, mesma estratégia, subir andando para não estragar tudo. E então, chegamos ao Km 41. Entrei na região da chegada em meio a um corredor de gente que aguardava seus entes queridos e com a bandeira brasileira agitando sobre a cabeça. Delírio dos presentes, muita gente aplaudia e berrava ao ver nosso símbolo da pátria, ainda mais nas mãos de um coitado daqueles que finalizava uma maratona. (a bela foto da chegada aí acima foi disponibilizada no site oficial da prova em parceria com o portal MídiaSport)

Terminei a Maratona Internacional de São Paulo 2016 com 04:36:43, debaixo de sol escaldante, sem música nos ouvidos, sem ter dormido direito na noite anterior. Se comparar com o resultado do ano anterior, um dos muitos em que as coisas deram errado, eram quase 57 minutos a menos! Descobri também que havia chegado na primeira metade dos concluintes, algo que nunca havia imaginado para uma prova dessas. Desidratação e dores, mas nada que Coca-Cola e Advil não resolvam.

No geral, boa organização, como sempre a chamada para os banheiros químicos em pouco número para a quantidade de inscritos, porém a hidratação estava excelente comparada com os anos anteriores. Kit muito bonito, camiseta Fila daquelas que dá vontade de usar até para sair, toalhinha, entrega eficiente. Como fiz a inscrição em lote promocional no ano anterior, paguei um valor que considero justo, R$ 80,00, para um evento deste porte. Crítica apenas quanto à divulgação do resultado oficial, que mesmo já passadas 2 semanas após o evento continua com listagem “extra oficial” no site e sem certificado.

Bom, fotinho orgulhosa com a medalha no peito, Obelisco do Ibirapuera ao fundo, e vamos para casa. Missão cumprida.

Em breve, tem mais.