Pois bem, dia da prova, 04:00 da manhã de um domingo frio em Florianópolis e o despertador toca. Às 04:30 o café da manhã da Pousada das Samambaias fervilhava de atletas animados pelo dia a frente. Tem louco pra tudo neste mundo. Apesar de não muito longe da largada, pelo menos 30 minutos seriam necessários de caminhada, mas para nossa satisfação, um grupo de triatletas do CAVEX, Aviação do Exército, reuniu os participantes e acompanhantes em seu micro-ônibus e nos deu uma carona providencial.
Últimos ajustes na bike, prender mais algumas câmaras, géis de carboidrato, colocar garrafas, e encher um pouco os pneus. Logo de cara um triatleta na mesma fileira perguntou sobre a bomba de pé que eu havia levado, se era empréstimo dos mecânicos e eu informei que ele deveria ter trazido a dele. Sim, respondendo a sua pergunta, eu emprestei a minha não só para ele, mas para uma meia dúzia de atletas que também haviam esquecido. A competição, para nós amadores, é contra o relógio apenas.
É hora de ir para a largada.
Você já teve a sensação de entrar em um moedor de carne, de livre e espontânea vontade? E o pior, passar um ano inteiro pensando, planejando e se preparando para isto? É, tem louco pra tudo mesmo.
A largada de um Ironman é algo indescritível, pelo menos do ponto de vista de quem está prestes a iniciar a jornada. Quando o locutor começa a fazer contagem regressiva, 10 minutos, 8 minutos, só faltam 5 minutos, menos de 2 minutos... você entra em um estado de transe, como se seu corpo fosse uma máquina e tudo o que não é essencial para o funcionamento fosse desligado. Você treinou, bem ou mal, pouco ou bastante, senão não estaria aqui, é isto o que você vai levar neste caminho. Serão 226 Km, e tem que ser feitos em menos de 17 horas.
A buzina toca (até hoje, toda vez que eu quero, é só fechar os olhos e eu a ouço, nítida e longa)
Daqui não tem mais volta.
A praia de Jurerê Internacional é conhecida por suas águas calmas, e no dia da prova estava um verdadeiro piscinão, porém frio. Apesar de ser a menor etapa, tanto em distância quanto em tempo de execução, a natação é um verdadeiro monstro de 7, ou melhor 2.000 cabeças pulando na água ao mesmo tempo, e você no meio delas. Como já se não bastasse o empurra-empurra, socos e chutes (involuntários, naturalmente), muita gente entra em pânico quando não treina em águas abertas. Afinal, na piscina você vê a borda ou o fundo o tempo todo, mas no mar, passadas as primeiras ondas, você estará no reino de Poseidon, e aí a estória é outra. Sem contar o esporte de contato que o triathlon se transforma neste momento.
O percurso do Ironman Florianópolis é um tradicional “M”, que neste ano sofreu uma leve alteração para evitar que os atletas saíssem muito próximo de uma área de pedras, porém no mesmo formato. Na imagem abaixo, que é o percurso oficial da etapa, dá para ter uma ideia.
Como já era de se esperar, o primeiro trecho é longo, e a maioria dos atletas que vão no seu ritmo estão por perto. Primeira boia a quase 1 Km da praia, e eu gostaria que alguém me explicasse porque tem gente que não consegue contornar a boia nadando, param de uma forma inesperada, pensei que alguns iam até pousar para um “selfie”...
Continuando a jornada até a segunda boia e até a areia, só fiz a besteira de seguir um cidadão que estava meio deslocado e fomos direcionados pelo pessoal dos caiaques a ir mais para a esquerda, entrando no trecho de areia (70 metros). Sair da água e depois voltar é meio estranho, mas já haviam se passado mais de 2.000 metros de mar. Esta era a distância máxima que eu já havia feito em águas abertas, na piscina até consegui distâncias maiores de uma única vez, mas daqui para a frente era território novo.
Voltei para a água e fiquei contente com o resultado, no meu ritmo fiz muito do que ensaiei na piscina e nas travessias que participei ao longo do ano. Conseguia respirar dos 2 lados, girava o corpo para diminuir o arrasto, tomava cuidado para não atropelar ou ser atropelado. E ao final de 01:37:20 saí da água, mais uns 2 minutos até passar pelo pórtico e meu tempo final foi 01:39:39 para 3,8 Km de mar. Primeiro monstro derrubado. Vale contar aqui que quando saímos da água os staffs estão posicionados a nos ajudar a tirar a roupa de borracha: você deita e eles te “descascam” do seu traje para que você passe para a T1, transição natação-bike.
Hora de colocar capacete, luvas, sapatilha, enfiar o equipamento de natação na sacola de transição e ir para a bike.
Como já era de se esperar, e depois eu explico porque, esta seria para mim a parte mais difícil da prova...
Em breve, o relato do pequeno pedal de 180 Km pelas estradas e avenidas de Florianópolis.
Super emocionante. Mais, fui "obrigado" a rir na hora que você disse que os staffs te "descascam" da roupa de borracha. kkkkkkk
ResponderExcluirAnsioso para os próximos "episódios" da série: Rinaldo, um IronMan.
Abraço e tudo de bom.
tutta-Baleias/PR
www.correndocorridas.blogspot.com.br
Pois é, Tutta, a sensação é esta mesmo, mas a ajuda deste pessoal é essencial para tirar o traje.
ExcluirEm breve a tenebrosa etapa de bike...
Abraço!
Um evento grandioso, sem sombra de dúvida. Meu carinho, amigo.
ResponderExcluirSim, um evento e tanto, todos os atletas e a organização estão de parabéns. Em breve eu continuo a saga.
ExcluirBoas corridas!