E então, com 05:22:58 horas de tempo de prova desde o tiro
inicial, passei pelo tapete de cronometragem do Km 44,28, sendo que ainda
faltam 45,92 Km pela frente. É incrível a agitação deste ponto da prova, o
negócio é mais festivo do que muita linha de chegada que eu
já vi, e o mais
incrível é que não é uma área urbana, mas no meio do caminho entre 2 grandes
cidades. Pouco adiante deste ponto descartei minha última peça de roupa extra,
uma camiseta velha manga comprida de uma prova de 2009, que estava por baixo da
camiseta regata. Ainda fazia bastante frio, pois estávamos próximo ao ponto
mais próximo do percurso e ainda sem sol, mas precisava dar por finalizada esta
fase de preocupação com peças de roupa para seguir viagem. Fiz isto na frente
de uma das vans que ficam posicionadas para levar os corredores que são
cortados ou desistem da prova naquele ponto, pois em menos de 50 minutos quem
passar por ali não vai poder continuar na corrida. Esta é uma regra que eu
apoio totalmente para ser implantada nas provas aqui no Brasil, qualquer
distância acima de 21 Km deveria ter pontos de corte, evitando eventos “sem
fim” como ocorrem regularmente. Longo assunto, depois conversamos sobre isso em
outra ocasião.
Halfway 2018-06-10 10.53 am |
Um pouco mais adiante os corredores passam por dois marcos
que fazem parte de todo o folclore da Comrades: Arthur’s Seat, uma brecha em na
montanha ao lado da estrada, onde diz a lenda um corredor sentava-se para
descansar dos treinos e pitar seu cachimbo em paz, hoje homenageado pelos
demais com a colocação de folhas e flores durante a prova, e o Wall of Honour,
um paredão de placas verdes e amarelas de corredores que literalmente
escreveram seus nomes nas provas. Momento registrado, é hora de ir em frente,
tem muita estrada para o os tênis devorarem.
As subidas continuavam, e seriam mais 13 Km até o próximo
ponto de corte, quando um longo declive se apresentou à frente. Já começou a
descida principal da prova? Ainda não, esta é Kloof, apenas uma “amostra
grátis” do que está por vir. Foi um momento muito especial da prova para mim,
pois fiquei um tempão correndo e conversando com um corredor sul-africano, mais
uma das grandes marcas do evento, que recebe muito bem quem está com a camiseta
verde e amarelo do nosso país. E assim aproximava-se do ponto de corte do Km
58, onde chegaria com estes números:
Distância: 57,61 km
Tempo: 07:13:01
Velocidade: 07:30 min/km
Um pouco mais adiante da estrutura da prova montada para atender os corredores, novamente algumas vans estacionadas pelo mesmo motivo que já expliquei lá atrás. Parei um pouco e saquei um spray anti-inflamatório para aplicar nas pernas, e o engraçado foi ter que explicar para uma moça da organização que eu estava bem, só me recuperando, e que não, eu não queria entrar na van e ser levado para Durban...
Winston Park 2018-06-10 12.42 am |
Mais um ponto de corte chegou:
Distância: 68,86 km
Tempo: 08:47:37
Velocidade: 07:39 min/km
Uau, só falta uma meia maratona! Pois é, na Comrades tem-se que pensar assim, senão vai tudo pro vinagre. Entramos (finalmente!) em um trecho realmente plano, mas a alegria durou apenas alguns quilômetros, pois Cowies Hill, uma montanha no meio do nosso caminho, apareceu no horizonte para indicar que ainda tínhamos mais algumas subidas pela frente. É impressionante a agitação e empolgação da torcida ao longo da prova, especialmente em trechos difíceis como este. Aqui, quase todo mundo anda, inclusive os Green Numbers, então não vamos querer ser diferentes. É como diria Nelson Mandela: “Depois de escalar uma montanha muito alta, descobrimos que há muitas outras montanhas mais por escalar”. Cowies Hill estava aí pra isso.
Não demorou muito e o último ponto de corte da prova antes
da chegada apareceu no radar:
Distância: 81,31 km
Tempo: 10:26:20
Velocidade: 07:42 min/km
Coração na boca, faltam menos de 9 Km e eu tenho mais de uma hora e meia para rodar esta distância! Muita calma nessa hora, o que pode dar de mais errado é uma lesão ou mal-estar, pois a quilometragem não mais assusta. Logo após Tollgate Bridge, outra descida dura, observei a marca de 84 Km, ou seja, até aqui são praticamente 2 maratonas! No mesmo dia, caramba! Mas ainda faltam 6 Km, e eles não foram fáceis. Apesar do trecho plano que dominaria esta última parte, era difícil correr, e a maioria dos atletas
caminhava, pois queria chegar no estádio em pé, correndo e de cabeça erguida. O relógio estava a nosso favor agora, não seria mais possível terminar em menos de 11 horas e ganhar uma Bronze Medal, então a palavra de ordem é gerenciar o que falta.
Entramos na reta final, passando ao lado do estádio
Kingsmead, onde a prova terminava nas edições em descida até 2016, porém neste
ano foi transferida para o Moses Mabhida Stadium, construído para a Copa do
Mundo de 2010 e mais de 1 Km adiante do outro. Mas chegar em um estádio de Copa
é muito mais glorioso do que um de críquete, e todos ali estavam ansiosos por
inaugurar este novo formato da prova, ninguém parecia incomodado com a
distância extra.
Eu prometi 3 posts, mas vou ter que parar aqui e fazer um
pouco de suspense de como é terminar a ultramaratona mais famosa do planeta,
entrando em um estádio gigantesco e com público nas arquibancadas.
Em breve, a chegada da Comrades Marathon 2018...
(as fotos em que eu apareço nesta postagem foram adquiridas no site Jetline Action Photo)
Que demais.
ResponderExcluirUm dos mesu sonhos seria correr esta prova um dia. Mas, acho muito pouco provável. Não só pela distância a ser percorrida, mas pelo fator: despesas. Que devem ser bem altas.
Abraço e no aguardo do terceiro post.
#tuttamaratonista
Tutta, com planejamento você chega lá, acredite. E vale a pena, cada centavo economizado vai ser muito bem aproveitado!
ExcluirGrande abraço!