domingo, 5 de agosto de 2018

Comrades Marathon 2018... só faltam mais 45 Km...

Quando você corre uma meia maratona e passa da marca de 10 Km, é uma sensação de alívio te dizendo que metade já foi. Idem para uma meia maratona em um evento de 42 Km, mas, como é esse negócio de já ter concluído mais que uma maratona inteira e ainda ter outra pela frente? Lá vem a segunda parte da Comrades “em descida”, mas como eu já falei no post anterior, o termo é meramente para designar o sentido da prova, pois a altimetria em nada favorece o corredor.

E então, com 05:22:58 horas de tempo de prova desde o tiro inicial, passei pelo tapete de cronometragem do Km 44,28, sendo que ainda faltam 45,92 Km pela frente. É incrível a agitação deste ponto da prova, o negócio é mais festivo do que muita linha de chegada que eu
Halfway 2018-06-10 10.53 am
já vi, e o mais incrível é que não é uma área urbana, mas no meio do caminho entre 2 grandes cidades. Pouco adiante deste ponto descartei minha última peça de roupa extra, uma camiseta velha manga comprida de uma prova de 2009, que estava por baixo da camiseta regata. Ainda fazia bastante frio, pois estávamos próximo ao ponto mais próximo do percurso e ainda sem sol, mas precisava dar por finalizada esta fase de preocupação com peças de roupa para seguir viagem. Fiz isto na frente de uma das vans que ficam posicionadas para levar os corredores que são cortados ou desistem da prova naquele ponto, pois em menos de 50 minutos quem passar por ali não vai poder continuar na corrida. Esta é uma regra que eu apoio totalmente para ser implantada nas provas aqui no Brasil, qualquer distância acima de 21 Km deveria ter pontos de corte, evitando eventos “sem fim” como ocorrem regularmente. Longo assunto, depois conversamos sobre isso em outra ocasião.

Um pouco mais adiante os corredores passam por dois marcos que fazem parte de todo o folclore da Comrades: Arthur’s Seat, uma brecha em na montanha ao lado da estrada, onde diz a lenda um corredor sentava-se para descansar dos treinos e pitar seu cachimbo em paz, hoje homenageado pelos demais com a colocação de folhas e flores durante a prova, e o Wall of Honour, um paredão de placas verdes e amarelas de corredores que literalmente escreveram seus nomes nas provas. Momento registrado, é hora de ir em frente, tem muita estrada para o os tênis devorarem.


As subidas continuavam, e seriam mais 13 Km até o próximo ponto de corte, quando um longo declive se apresentou à frente. Já começou a descida principal da prova? Ainda não, esta é Kloof, apenas uma “amostra grátis” do que está por vir. Foi um momento muito especial da prova para mim, pois fiquei um tempão correndo e conversando com um corredor sul-africano, mais uma das grandes marcas do evento, que recebe muito bem quem está com a camiseta verde e amarelo do nosso país. E assim aproximava-se do ponto de corte do Km 58, onde chegaria com estes números:

Ponto: Winston Park
Distância:  57,61 km      
Tempo: 07:13:01
Velocidade: 07:30 min/km



Um pouco mais adiante da estrutura da prova montada para atender os corredores, novamente algumas vans estacionadas pelo mesmo motivo que já expliquei lá atrás. Parei um pouco e saquei um spray anti-inflamatório para aplicar nas pernas, e o engraçado foi ter que explicar para uma moça da organização que eu estava bem, só me recuperando, e que não, eu não queria entrar na van e ser levado para Durban...

Winston Park 2018-06-10 12.42 am
O tal trecho em descida finalmente chegou e com ele, dores memoráveis nas pernas. Parece fácil falar que vai correr “na descida”, mas quando seu corpo já foi esmerilhado por uma série de sobes e desces pelo caminho, expor a musculatura a uma descida íngreme e com caimento lateral na pista não é nada simples. Caminha-se e bastante neste trecho, pois a configuração da passada muda, e com isto aparecem dores e desconfortos diferentes dos demais experimentados no dia. Também nesta parte da prova alguns dos ônibus e vans que levam os corredores desistentes ou eliminados passa a dividir a pista com os atletas na prova, e acredite, dentro ou fora o olhar é de desânimo, pois é uma cena triste.

Mais um ponto de corte chegou:

Ponto: Pinetown
Distância:  68,86 km      
Tempo: 08:47:37
Velocidade: 07:39 min/km



Uau, só falta uma meia maratona! Pois é, na Comrades tem-se que pensar assim, senão vai tudo pro vinagre. Entramos (finalmente!) em um trecho realmente plano, mas a alegria durou apenas alguns quilômetros, pois Cowies Hill, uma montanha no meio do nosso caminho, apareceu no horizonte para indicar que ainda tínhamos mais algumas subidas pela frente. É impressionante a agitação e empolgação da torcida ao longo da prova, especialmente em trechos difíceis como este. Aqui, quase todo mundo anda, inclusive os Green Numbers, então não vamos querer ser diferentes. É como diria Nelson Mandela: “Depois de escalar uma montanha muito alta, descobrimos que há muitas outras montanhas mais por escalar”. Cowies Hill estava aí pra isso.

Não demorou muito e o último ponto de corte da prova antes da chegada apareceu no radar:

Ponto: Sherwood
Distância:  81,31 km      
Tempo: 10:26:20
Velocidade: 07:42 min/km



Coração na boca, faltam menos de 9 Km e eu tenho mais de uma hora e meia para rodar esta distância! Muita calma nessa hora, o que pode dar de mais errado é uma lesão ou mal-estar, pois a quilometragem não mais assusta. Logo após Tollgate Bridge, outra descida dura, observei a marca de 84 Km, ou seja, até aqui são praticamente 2 maratonas! No mesmo dia, caramba! Mas ainda faltam 6 Km, e eles não foram fáceis. Apesar do trecho plano que dominaria esta última parte, era difícil correr, e a maioria dos atletas
caminhava, pois queria chegar no estádio em pé, correndo e de cabeça erguida. O relógio estava a nosso favor agora, não seria mais possível terminar em menos de 11 horas e ganhar uma Bronze Medal, então a palavra de ordem é gerenciar o que falta.

Entramos na reta final, passando ao lado do estádio Kingsmead, onde a prova terminava nas edições em descida até 2016, porém neste ano foi transferida para o Moses Mabhida Stadium, construído para a Copa do Mundo de 2010 e mais de 1 Km adiante do outro. Mas chegar em um estádio de Copa é muito mais glorioso do que um de críquete, e todos ali estavam ansiosos por inaugurar este novo formato da prova, ninguém parecia incomodado com a distância extra.

Eu prometi 3 posts, mas vou ter que parar aqui e fazer um pouco de suspense de como é terminar a ultramaratona mais famosa do planeta, entrando em um estádio gigantesco e com público nas arquibancadas.


Em breve, a chegada da Comrades Marathon 2018...

(as fotos em que eu apareço nesta postagem foram adquiridas no site Jetline Action Photo

2 comentários:

  1. Que demais.
    Um dos mesu sonhos seria correr esta prova um dia. Mas, acho muito pouco provável. Não só pela distância a ser percorrida, mas pelo fator: despesas. Que devem ser bem altas.
    Abraço e no aguardo do terceiro post.



    #tuttamaratonista

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    Respostas
    1. Tutta, com planejamento você chega lá, acredite. E vale a pena, cada centavo economizado vai ser muito bem aproveitado!

      Grande abraço!

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