sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Filme "A Longa Corrida": um clássico!

Em um mês de “entressafra” de provas, pelo menos no meu calendário, o jeito é aproveitar os treinos e rever os clássicos do cinema que motivam qualquer um a sair do sofá. O pódio dos filmes prediletos de corrida naturalmente é de “Carruagens de Fogo”, mas com certeza a medalha de prata sempre foi “A Longa Corrida” (The Long Run, África do Sul, 2001), produção simples e que prende a atenção de quem corre do início ao fim. Aliás, você já deve imaginar que se a produção é sul-africana, o início é em Pietermaritzburg e o final em Durban... sim, isto mesmo, um filme que retrata uma estória que muito bem poderia ter ocorrido em uma edição da Comrades!

Trata-se de um drama retratando dois personagens totalmente distintos: Bertold 'Barry' Bohmer (Armin Mueller-Stahl), um treinador alemão que arranca o couro de um pequeno grupo de negros durante os treinos nas estradas africanas e Christine Moyo (Nthati Moshesh) uma refugiada da Namíbia que corre simplesmente para esquecer sua dura vida em um país que a vê com maus olhos. A percepção de Barry para encontrar atletas diferenciados o leva a convencê-la a treinar para a ultramaratona, no melhor estilo “diamante a ser lapidado”. As diferenças culturais entre os dois são ressaltadas pela simplicidade com que Christine vê a corrida e a obsessão de Barry em promover um atleta que tenha capacidade de chegar inteiro ao final da prova. Não tenho nada contra assessorias esportivas ou quem treina supervisionado, mas percebo que muitos colegas já relataram cobranças de seus treinadores que muitas vezes não condizem com seus objetivos, ou seja, a estória do filme não é tão absurda assim.

Entre os conflitos pessoais dos personagens e as rotinas de treinos, o melhor do filme é guardado para a parte final. Com cenas filmadas na edição de 1999 da competição, desde sua clássica largada ainda de madrugada ao som do galo e o exército de corredores marchando em direção ao desafio à sua frente, Christine e o grupo de africanos enfrentam a dureza da prova e naturalmente contrariam o que ficou definido nos treinos. Antes que o autor revele alguns “spoilers” e conte as partes mais emocionantes, vamos parar por aqui.

Mas, aquele conselho de sempre: um pouquinho de trabalho de arqueologia não faz mal a ninguém, e encontrar este filme pode não ser muito fácil. Apesar de existir uma versão em DVD distribuída no Brasil, trata-se de um título fora de catálogo. Mesmo assim, vale a pena procurar.

E não se esqueça de deixar o tênis ao lado da poltrona, quando o filme acabar você vai sentir uma vontade irresistível de dar pelo menos um trote no quarteirão.

(Imagens em baixa resolução, somente para fundamentar visualmente o artigo em questão e sem fins lucrativos)


sábado, 8 de setembro de 2012

Troféu Independência: corrida de um povo heroico!

O formoso céu, risonho e límpido, da manhã do feriado de 7 de Setembro foi um presente para os corredores que participaram do XI Troféu Independência do Brasil no Ipiranga, prova tradicional e muito bem organizada pela JJS Eventos, com percursos de 5 e 10 Km, além da caminhada. Voltando à minha vida “normal” de corredor, já que não tenho pretensão alguma de virar triatleta, nada melhor que a distância predileta de 10 Km para acostumar a largar e chegar no asfalto.

A largada foi pontual às 08:00 da manhã, mas o sol da liberdade em raios fúlgidos brilhou no céu da Pátria nesse instante e as temperaturas do dia já estavam previstas a chegar na casa dos 30 graus. O jeito é correr o mais rápido possível, antes que os bonés fritem, mesmo com o trecho inicial de quase 1 Km de subida saindo do Parque da Independência e entrando na Av. Nazaré. Um ponto muito positivo da prova foi a entrega do kit no próprio dia do evento, de forma organizada e rápida. Alguns corredores reclamaram que queriam usar a camiseta do evento na corrida e a que a mesma deveria ter sido entregue antes, mas eu não entendo qual a dificuldade de trocar a vestimenta que vieram à prova pelo verde-louro do evento e guardar a outra na mochila. Tem gente que reclama de tudo.

Depois da longa subida, o corredor à terra desce e aponta em direção ao trecho plano da prova, quase chegando até a Av. do Estado e voltando para o trecho de vai-e-vem da Av. D. Pedro I. Percebi que a placa de Km 6 estava posicionada de maneira incorreta, pois como controlava minhas passadas pelo contador de voltas (lap) do relógio, o trecho anterior marcou 8 min/Km e o próximo 5 min/Km, algo absurdo para quem não corre nem tão lento e nem tão rápido assim. Depois disso voltou ao normal, sem maiores prejuízos.

E aí vem a subida da Av. Nazaré novamente, desafiando o nosso peito a própria morte e que você conseguirá conquistar somente com pernas fortes. Da base até a entrada do parque novamente pela terra mais garrida, o corredor está nos momentos finais, e muita gente ignorou para que servem os joelhos e largou o freio de mão na descida (ok, eu também...). Finalmente, a terra adorada, idolatrada, o tapete de chegada!

Entrega de um kit muito legal bem organizada e eficiente, dispersão muito boa e quem queria esperar os demais corredores podia assistir a chegada sem tumulto. Os pontos de sempre a considerar: faltou algo salgado no kit pós-prova e (de novo, já indiquei isto aqui milhões de vezes) caminhantes precisam largar depois dos corredores e não pelo meio do pelotão. Linda medalha, com as cores da nossa bandeira, adequada ao evento. E ponto positivo para o staff da prova, que se negou na minha frente a entregar o kit e medalha para duas mocinhas “pipocas”. No geral, uma prova muito boa.

Pernas X Cabeça

Na véspera da prova tive um problema profissional (se é que podemos chamar algumas pessoas que trabalham comigo de “profissionais”) e não estava nem um pouco a fim de correr no dia. Inscrição paga, apesar de preço acessível, e pessoas dependendo do meu “GPS interno” para achar o estacionamento na região, acabei indo mesmo assim. Dormi mal, a última coisa que queria era correr, e a sorte foi ter deixado tudo arrumado no dia anterior. Mas a corrida tem este dom de endorfina, e após a 01:05:28, mesmo sem treinar nada nas últimas duas semanas, me senti bem melhor, pelo menos fisicamente. Corre-se com a cabeça também, ainda bem que a minha desligou um pouco durante a prova. Mas segunda-feira está chegando, e estas pessoas vão ver perceber logo cedo algo que não entenderam:

Um filho teu não foge à luta!

(P.S.: se você não entendeu a linguagem mais rebuscada deste post, está na hora de aprender a cantar nosso Hino Nacional... ou vai ficar mexendo a boca igual a jogador de futebol antes de partida da Seleção?)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ironman 70.3 – da corrida à linha de chegada!

Agora só falta uma meia maratona...

Passado o stress da etapa de ciclismo, é hora de ir para a T2 e trocar capacete por boné, tirar manguitos e luvas, soltar o velcro da sapatilha e calçar o tênis. Corrida, finalmente! Só que o corpo ainda estava no balanço dos 90 Km de pedal e colocar velocidade nas passadas foi bem difícil. Olhei no relógio, ainda p.. da vida com o tempo alto da última etapa e apontei na direção do início do trecho de corrida, sabia que tinha ainda 3 horas para completar o percurso, tempo de sobra. Alguns poucos atletas ainda estavam chegando e trocando seus equipamentos e eu já ia para a primeira volta de 10,5 Km, ou seja, uma meia maratona pela frente, na mesma estrada com vento e algumas subidas de onde acabei de sair.

Quando me acostumei novamente a “pisar no chão” comecei em ritmo leve, mas após alguns quilômetros percebi que estava indo a 7 min/Km, ou seja, mais ou menos o meu ritmo na distância de 21 Km. Fui neste “trote” até o Km 7, mas resolvi pegar leve e andar em alguns trechos. A última coisa que precisava era de uma câimbra ou algo pior que forçasse a caminhada mais lenta. Mesmo quando reduzia o ritmo,
procurava caminhar forte para não desaquecer. Para completar, aquela dor no pé que me acompanha desde a Maratona de São Bernardo continuava me aporrinhando.

O vento continuava incomodando, a ponto de ver as gotas de água de um copo do corredor à frente simplesmente voarem num ângulo de 90 graus, mas o efeito na corrida não é tão desagradável quanto na bicicleta. Até mesmo ajudou a resfriar o corpo no forte sol das 3 da tarde, porém continuava jogando areia para todos os lados. Hidratação e alimentação eram um verdadeiro “comes e bebes”, com frutas, água, Gatorade, Pepsi e sabe-se mais o que lá me ofereceram. O staff, sempre animado, oferecia de tudo e incentivava os corredores.

Conforme os mais rápidos terminavam, os mais lentos como eu ficavam solitários na estrada, mas então o Ironman transforma-se em um esporte coletivo: como o percurso é um vai-e-vem, os corredores e corredoras se cruzavam ou se ultrapassavam despejando palavras de incentivo uns aos outros. “Vai garoto!”, “Falta pouco!”, “Você já é um campeão!” e coisas do tipo. Este espírito de equipe foi algo único, duvido que o pessoal lá da outra ponta já experimentou isto alguma vez.

E então, chega o último retorno, eu já havia feito as contas e terminaria ainda com uma folga de uns 15 minutos. Não fui para fazer tempo, queria a todo custo completar a prova dentro do tempo limite. Passei pela última rampa que dava acesso do estacionamento para a área do pórtico e para conter a emoção recitei o poeta Osbourne:

Heavy boots of lead
Fills his victims full of dread
Running as fast as they can
Iron man lives again!
Lembrando...

Há 07:45:57 atrás eu iniciei uma intensa atividade física, percorrendo 113 Km nadando no mar, pedalando e correndo em estrada. Contra qualquer possibilidade e contrariando o que muita gente pensa de mim, eu concluí uma das provas de triathlon mais duras que existem, cujas distâncias são o dobro da modalidade olímpica.

Não precisa bater palmas, não fiz nada além do que me propus a fazer.

Dicas do meu treinador

Como eu não tenho treinador, as dicas são minhas mesmo:
- Treine
- Seja organizado

Organize seus treinos. Treine sua organização. O resto é consequência.

Organização da prova

A palavra “perfeita” é pouco para descrever a organização da Latin Sports. Se para o atleta a logística da prova é uma operação de guerra, para eles é pelo menos 800 vezes pior. Mas deram conta do recado, um profissionalismo que eu nunca havia visto em nenhum outro evento, sempre auxiliando e dando informações precisas na maior cordialidade.

E as fotos...

Algumas são minhas, algumas da Márcia e algumas eu comprei no Foco Radical.

Só pra se exibir?

Não fiz isto tudo com este intuito. Muita gente dá grandes festas de aniversário, especialmente quando completa 40 anos de idade, e como eu não costumo comemorar o meu, peguei o dinheiro há alguns meses atrás e dei uma “festa” para mim mesmo, estraçalhando o corpo! E espero com estes textos ter incentivado outros a perseguirem seus objetivos, sejam eles quais forem.

The End

Ao passar pela linha de chegada, você é envolto em uma toalha com o símbolo da prova, seu primeiro presente de Homem de Ferro. Camiseta de finisher e medalha vem na sequência, e o peso desta é muito maior do que as outras, pois ela carrega todas as dores e suor de todos os meses de preparação, noites mal dormidas por ansiedade e incertezas, não apenas daquele dia sensacional.

E aí vai ela, ocupando lugar de destaque na coleção:


IronMen, IronWomen, dizer que vocês estão de parabéns é pouco. Foi uma honra para mim estar ao lado de tanta gente insana e dedicada, que de livre e espontânea vontade enfrenta um desafio como este.

Completei meu Ironman 70.3 ou Meio-Ironman. ..


Ah, peraí, “meio”? Não sou de fazer as coisas pela metade!

...To be continued...someday...

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ironman 70.3 – E o vento quase levou...

O cara da foto aí ao lado sou eu. E ele estava com pressa, muita pressa...

A chamada T1 do triathlon, transição entre a água e o ciclismo possui uma logística um pouco mais elaborada que a T2 no que se refere à troca de equipamentos. Tirar todos os equipamentos de natação e se preparar para uma etapa de bicicleta não é tão simples quanto parece, e organização é a palavra chave. Deixei tudo pronto, inclusive para ser retirado de dentro da sacola na mesma sequência de “instalação”, mas mesmo assim uma peça ou outra dá trabalho. A bicicleta deve ser retirada do cavalete e empurrada até a área de montagem, geralmente uma faixa no chão supervisionada pelo staff. Deste ponto em diante, é pedalar o melhor possível, e no caso do Ironman 70.3, serão 90 Km pela estrada que liga a BR-101 ao Parque Beto Carrero World, conhecida como Transbeto.

Após um pequeno trecho plano de cidade em Balneário de Penha, toma-se o rumo em direção à BR-101, com trechos em média de 14 Km de extensão, totalizando 3 voltas de 30 Km. Com algumas subidas quase imperceptíveis de carro, mas que no pedal dão bastante diferença de velocidade, a estrada não é das mais fáceis, porém gerenciável. Como já expliquei antes, minha bike é uma Caloi 10, um equipamento bem improvável para este tipo de competição, mas eu parti do princípio que o mais importante é o atleta, e não apenas o equipamento. Se eu tivesse uma Cervèlo de 20 mil reais não ia adiantar muita coisa, não tenho perfil de atleta de ponta. Bom, ponta de estoque, talvez.

Nesta etapa, que é a mais longa nas provas de triathlon, o tempo de corte era de 5 horas após o início da competição, ou seja, eu tinha praticamente 4 horas para completar o percurso. Pretendia manter a velocidade média de 30 Km/h, que havia sido minha velocidade de treinos, porém estes haviam sido feitos com pouca variação altimétrica. Eu sabia que no dia da prova aceleraria um pouco mais que nos treinos, por isto estava confiante que teria o tempo suficiente da etapa. Se não entregasse a bicicleta na T2 até 14:30, game over, seria convidado a me retirar do evento. Isto seria a humilhação máxima, especialmente por estar com uma bike mais simples, e eu não queria de maneira alguma terminar assim.

Percebi logo de cara que a velocidade média poderia ser mantida em torno de 35 Km/h, graças aos retões e descidas, caindo apenas um pouco nas subidas. A hidratação neste trecho da prova é feita através da distribuição de Gatorade em sports bottle e água em caramanholas (squeezes) o que facilita muito para o ciclista. Deixei propositalmente um porta-garrafinhas livre na bicicleta, já levando minha hidratação nos outros duas garrafas posicionadas na parte traseira. Como gel de carboidrato não é minha refeição predileta, deixei algumas bisnaguinhas e doces em uma bolsinha no quadro, o que deu muito certo. Apenas errei em levar bomba e uma ferramenta junto, pois existe na prova um serviço de mecânicos que transitam o tempo todo para solucionar problemas nas bikes, ou seja, peso extra no meu conjunto.

Uma volta, duas voltas e tudo ia melhor que o planejado, porém quando cheguei ao Km 70 na terceira volta, constatei algo que havia lido nas reportagens sobre a prova: fortes ventos atingem a região no horário próximo ao meio dia. Dito e feito, uma ventania danada, quando não me arrastava para trás diminuindo a velocidade e obrigando a pisar forte, jogava a bicicleta de um lado para o outro da pista, exigindo um controle danado. Até um arbusto foi arremessado na minha direção, deixando de presente um pedaço de plástico na roda. Ou seja, stress, e energia gasta com stress é energia assim mesmo. O jeito foi apertar para valer, martelar mesmo o pedal, ou como diz aquele hit dos anos 90, “hammer time!”.

Peraí, perseguido por um cachorro em pleno Ironman?

Existe ao longo da rodovia uma comunidade bem humilde, que no dia da prova sai de casa para assistir a competição. A garotada fica próxima dos postos de hidratação repetindo o mantra “tio, dá uma garrafinha!” para que os atletas arremessem seus squeezes de água ou Gatorade para que eles possam, sei lá, colecionar. No começo achei engraçado, depois, especialmente na hora do stress, passou a encher o saco. Afinal, a garotada não respeitava quem estava ali já cansado com aquela ventania toda e tentando se concentrar na prova.

Para completar, ao passar por um grupo do “tio, dá uma garrafinha!” eu até pensei em lançar uma sobressalente de água distribuída no último posto, só que paciência com o vento e os moleques estava no limite. Para completar, um cachorro saiu correndo atrás da minha roda, grunhindo, o que talvez na língua dos cães fosse “tio, dá uma garrafinha!”. Dito e feito, p... da vida, arremessei na direção do pulguento, não sei se acertou, mas parou de me perseguir. É, só acontece comigo mesmo!

Minha cabeça não parava de fazer contas de tempo X velocidade X distância que faltava, e eu quase pirei. Entreguei a bicicleta na T2 faltando menos de 12 minutos para o tempo limite! Ou seja, a vantagem da natação já tinha sido pulverizada, e se não tivesse acontecido, teria acabado ali mesmo a prova. Saí duro da bicicleta, cambaleando naquelas malditas sapatilhas até a T2, onde fui ao banheiro tirar o excesso de líquidos e calcei o tênis para a última etapa da prova.

Acessórios de corrida no lugar, o asfalto me espera. Estou em casa!

Aproveitando...

Se quiser saber um pouco mais sobre triathlon ou Ironman 70.3, a Revista The Finisher publicou matérias sobre os assuntos na edição deste mês. Vale a pena conferir.

E se quiser conhecer um pouco mais sobre como uma Caloi 10, que teoricamente pode ser comprada em supermercado, virou uma bicicleta de triathlon veja no Ciclovia Digital, onde dou detalhes da transformação.

E aí vem a última parte...Corrida, finalmente!